Na manhã seguinte, acordei sozinha na cama do hotel.
O lado do João estava frio e intocado. Ele não tinha voltado.
Tirei o vestido de noiva e vesti as minhas roupas normais. Pareciam estranhas, como se pertencessem a outra pessoa.
Havia dezenas de chamadas perdidas e mensagens. A minha mãe estava frenética.
"Ana, querida, onde estás? O que aconteceu? O João está contigo?"
Respondi com uma simples mensagem: "Estou bem. Falamos mais tarde."
Não conseguia falar com ninguém. Não sabia o que dizer.
Como é que eu explico que o meu noivo me abandonou no altar para ir ter com a ex-namorada?
Conduzi até ao nosso novo apartamento, o lugar que supostamente seria o nosso lar. Estava cheio de caixas por desempacotar e presentes de casamento.
Sentei-me no chão, rodeada pelo silêncio e pelas provas de uma vida que parecia já ter acabado antes mesmo de começar.
O meu telefone tocou. Era a mãe do João, a Helena. Atendi.
A sua voz era tensa. "Ana? O João está aí? Não o conseguimos contactar."
"Não, ele não está aqui", respondi, a minha voz monótona.
"Onde é que ele está? O que aconteceu ontem à noite? Isto é uma vergonha para a nossa família!"
Respirei fundo. "A senhora devia perguntar-lhe a ele. Ele foi para o hospital ter com a Sofia."
Houve um silêncio do outro lado da linha, depois um suspiro pesado.
"Oh, aquela rapariga. Pensei que o João já a tinha ultrapassado. Ela sempre foi tão... dramática."
A sua voz mudou, tornando-se mais suave. "Ana, querida, eu sei que isto é difícil. O João tem um coração demasiado bom. Ele não consegue ver as pessoas a sofrer. Por favor, sê paciente com ele."
Paciência. Era sempre isso que me pediam. Sê paciente. Sê compreensiva.
"Ele abandonou-me no nosso casamento", disse eu, as palavras a saírem frias e duras.
"Eu sei, e isso foi errado", admitiu a Helena. "Mas a vida da Sofia estava em risco. Tenta entender o lado dele. Ele vai voltar para ti. Ele ama-te."
Eu não tinha tanta certeza disso.
Desliguei a chamada, sentindo-me mais vazia do que antes.
Todos pareciam ter uma desculpa para o João. Todos pareciam pensar que o comportamento dele era justificável.
Só eu é que era a egoísta, a insensível, a que não entendia.