Uma semana depois, eu estava a encaixotar as minhas coisas.
O nosso apartamento, o apartamento que eu e o Pedro tínhamos decorado juntos, parecia agora um mausoléu.
Cada objeto era uma memória. O sofá onde víamos filmes. A mesa onde jantávamos.
Eu estava a esvaziar a gaveta da sua mesa de cabeceira quando encontrei um envelope.
Não era a carta de que a Dona Helena tinha falado. Era um extrato bancário.
Curiosa, abri-o.
Era de uma conta poupança conjunta. A nossa conta para a casa.
Tínhamos juntado dinheiro durante três anos. Havia lá mais de 30.000 euros.
O extrato mostrava um levantamento.
30.000 euros.
A data do levantamento: o dia do nosso casamento.
Ele não fugiu apenas de mim. Ele roubou-me.
Ele roubou o nosso futuro.
O choque inicial deu lugar a uma raiva fria e dura.
Aquele dinheiro não era só dele. Metade era meu. O meu trabalho, as minhas poupanças.
Peguei no telemóvel e liguei à Sofia.
"Sofia, preciso de um favor. Consegues descobrir onde está a Carla?"
"A ex do Miguel? Porquê?"
"Eu acho que ela sabe onde está o Pedro."
Houve uma pausa. "Lia, tens a certeza que queres ir atrás disto? Talvez seja melhor deixar para lá."
"Ele roubou o meu dinheiro, Sofia. 30.000 euros. Eu não vou deixar isto para lá."
O silêncio do outro lado da linha foi pesado.
"Ok," disse ela finalmente. "Deixa-me ver o que consigo fazer."
Duas horas depois, ela ligou-me de volta.
"Ela está num bar no centro da cidade. O 'Eclipse' . Parece que está a celebrar alguma coisa."
"Obrigada, Sofia."
"Lia, tem cuidado."
Desliguei e vesti-me. Calças de ganga, uma t-shirt preta, botas.
Não era mais uma noiva.
Era uma mulher com uma missão.