A minha sogra, a Dona Elvira, chegou ao hospital em menos de vinte minutos.
O seu rosto estava vermelho de raiva, e ela segurava a sua mala com tanta força que os seus nós dos dedos estavam brancos.
Ela não disse uma palavra para mim no início. Foi direita ao berço, olhou para o neto e os seus olhos encheram-se de lágrimas.
"Ele é lindo, Helena. Simplesmente perfeito."
Ela virou-se para mim, a sua expressão suavizando-se por um momento. "E tu? Como te sentes? Eles trataram-te bem?"
"Estou bem, Dona Elvira. Cansada, mas bem."
Ela sentou-se na cadeira ao lado da minha cama, a sua raiva a regressar.
"Eu não consigo acreditar nisto. Juro por Deus, eu não criei o meu filho para ser este tipo de homem. Um homem que abandona a sua esposa e o seu filho recém-nascido."
Ela abanou a cabeça. "É aquela mulher. Aquela Sofia. Ela sempre foi um veneno na vida dele. Mesmo quando eles terminaram, ela nunca o deixou ir verdadeiramente."
"Ele deixou-a fazer isso," disse eu, a minha voz plana. "Ninguém o forçou."
A Dona Elvira olhou para mim, os seus olhos a examinar o meu rosto. Ela viu a determinação ali.
"Tu falas a sério sobre o divórcio, não falas?"
"Sim."
Ela suspirou, um som longo e cansado. "Eu não te posso culpar. Honestamente, não posso. Uma mulher só aguenta até certo ponto."
O seu telemóvel tocou. Ela olhou para o ecrã e mostrou-mo. Era o Leo.
"Queres que eu atenda?" ela perguntou.
"Não," disse eu. "Deixe-o ir para o voicemail. Não quero falar com ele."
Ela rejeitou a chamada e desligou o som do telemóvel.
"Ele vai ter de lidar comigo quando eu chegar a casa," ela rosnou. "Agora, vamos focar-nos em vocês os dois. Já pensaste num nome?"
"Sim," disse eu. "Eu quero chamar-lhe Pedro."
"Pedro," ela repetiu, sorrindo tristemente. "Era o nome do meu pai. É um nome forte. Eu gosto."
Passámos a hora seguinte em silêncio, apenas a observar o bebé a dormir. A presença calma e solidária da Dona Elvira era um bálsamo para a minha alma ferida.
Finalmente, a enfermeira voltou.
"Senhora Alves, o seu marido está cá fora. Ele parece bastante agitado. Devo deixá-lo entrar?"
Antes que eu pudesse responder, a Dona Elvira levantou-se.
"Eu trato disto."
Ela saiu do quarto, fechando a porta firmemente atrás de si.
Eu não conseguia ouvir as palavras exatas, mas ouvi as vozes. A voz suplicante e confusa do Leo, e a voz baixa e furiosa da sua mãe.
Durou vários minutos. Depois, a porta abriu-se novamente.
A Dona Elvira entrou, seguida por um Leo de ar derrotado.
Os seus olhos estavam vermelhos, o seu cabelo um desastre. Ele parecia alguém que tinha atravessado um inferno.
"Helena," ele começou, a sua voz a quebrar. "Desculpa. Eu... eu perdi a noção do tempo. O Tiago estava tão mal..."
"Não," interrompi eu, a minha voz fria como gelo. "Não uses essa criança como desculpa."
Ele encolheu-se. "Eu sei. Eu estraguei tudo. Mas eu estou aqui agora. Deixa-me ver o meu filho."
Ele deu um passo em direção ao berço, mas eu levantei uma mão.
"Não. Tu não tens esse direito. Não agora."
"Helena, por favor," ele implorou, as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. "Ele é o meu filho."
"Sim, ele é," concordei. "E ele merecia que o pai estivesse aqui quando ele nasceu. Ele merecia ser a tua prioridade. Não um pensamento tardio."
"Eu amo-te, Helena. Eu amo-vos aos dois."
"As tuas ações dizem o contrário, Leo. Elas têm dito o contrário há meses."
Peguei no meu telemóvel, abri a mensagem que tinha escrito para a minha advogada e carreguei em 'enviar'.
Mostrei-lhe o ecrã.
"Acabou, Leo. Eu quero o divórcio."