O Preço da Negligência: Um Divórcio no Berço
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Capítulo 3

O rosto do Leo ficou branco. Ele olhou do telemóvel para mim, a sua boca a abrir e a fechar sem que nenhum som saísse.

"Divórcio? Tu não podes estar a falar a sério. Nós acabámos de ter um bebé."

"Não, Leo. Eu acabei de ter um bebé. Tu estavas a tomar conta do filho de outra pessoa."

A Dona Elvira, que tinha estado em silêncio no canto, deu um passo em frente.

"Leo, ouve a tua esposa. Tu cometeste um erro terrível. O pior erro da tua vida."

"Mãe, fica fora disto!" ele retorquiu, a sua tristeza a transformar-se em raiva. "Isto é entre mim e a Helena."

"Tornou-se da minha conta no momento em que abandonaste o meu neto no dia em que ele nasceu," ela respondeu, a sua voz perigosamente calma.

O Leo virou-se novamente para mim, o seu rosto desesperado.

"Helena, podemos resolver isto. Eu prometo. Eu vou acabar com as coisas com a Sofia. Vou cortar todo o contacto. Eu farei qualquer coisa."

"É tarde demais para promessas, Leo. Eu dei-te tantas oportunidades. Eu pedi, eu implorei. E tu escolheste-a a ela e ao filho dela, vezes sem conta."

Lembrei-me de todas as vezes. O ultrassom que ele perdeu porque o Tiago tinha um jogo de futebol. A aula de preparação para o parto a que fui sozinha porque o Tiago estava com uma dor de dentes. O jantar de aniversário que ele cancelou porque a Sofia estava a "sentir-se em baixo".

Cada vez, era uma pequena traição. Juntas, elas construíram um muro entre nós.

"Isso não era nada!" ele argumentou, a sua voz a aumentar. "Eu só estava a ajudar! Tu sabes como a Sofia é, ela não tem mais ninguém!"

"E eu? Quem é que eu tinha quando as minhas contrações começaram no meio da noite? Quem é que eu tinha quando estava a empurrar durante horas, a perguntar-me onde estaria o meu marido?"

Ele não tinha resposta. Ele apenas ficou ali, a parecer um menino apanhado a fazer algo de errado.

"Eu quero que saias," disse eu, a minha voz a tremer ligeiramente pela primeira vez. "Eu não te quero aqui. Não quero que toques no meu filho."

"Nosso filho," ele corrigiu, a sua voz dura. "Ele também é meu filho, e tu não me podes afastar dele."

"Vê-me a tentar," respondi friamente. "Sai, Leo. Agora."

A Dona Elvira pôs uma mão firme no braço dele. "Ouviste-a. Vamos embora. Deste problemas suficientes por um dia."

O Leo olhou uma última vez para o berço, o seu rosto uma máscara de dor e arrependimento. Depois, ele virou-se e saiu do quarto, a sua mãe logo atrás dele.

A porta fechou-se, e o silêncio que se seguiu foi absoluto.

Eu finalmente deixei o ar que estava a prender sair num longo e trémulo suspiro.

O meu corpo inteiro doía, não apenas do parto, mas da tensão dos últimos meses, das últimas horas.

Olhei para o meu filho, o pequeno Pedro, a dormir pacificamente, inconsciente do drama que se desenrolava à sua volta.

"Somos só tu e eu agora, meu pequeno," sussurrei. "Mas nós vamos ficar bem."

Eu sabia que não ia ser fácil. O Leo ia lutar. A sua família, para além da sua mãe, provavelmente ficaria do lado dele.

Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu senti uma centelha de paz.

A decisão estava tomada. Não havia mais incerteza, não havia mais esperança vã.

Apenas o caminho claro à minha frente.

Um caminho sem o Leo.

            
            

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