O Eco de Um Grito Perdido
img img O Eco de Um Grito Perdido img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

O funeral foi um borrão.

Eu vesti um vestido preto. Fiquei de pé junto ao pequeno caixão. Olhei para as caras tristes à minha volta.

Eu não senti nada. Era como se estivesse a ver um filme sobre a vida de outra pessoa.

Pedro ficou ao meu lado o tempo todo, a sua mão nas minhas costas. Um gesto para as outras pessoas verem. Um espetáculo de um marido de luto.

Eu deixei-o fazer o seu papel. Não tinha energia para lutar.

Depois do serviço, todos vieram a nossa casa novamente. Mais comida que ninguém comeu. Mais palavras vazias.

Eu escapei para o jardim. O baloiço que o Pedro construiu para o Leo no verão passado estava ali, a balançar suavemente com a brisa.

Sentei-me nele. Para trás e para a frente. Para trás e para a frente.

O movimento era a única coisa que me fazia sentir um pouco real.

De repente, o meu telemóvel vibrou no meu bolso.

Era um número desconhecido. Ignorei.

Vibrou novamente. Uma mensagem.

Abri-a por curiosidade.

"Sei o que aconteceu. Não foi só um acidente."

O meu coração deu um salto.

Quem era? Como é que sabiam?

Respondi, os meus dedos a tremer.

"Quem é você?"

A resposta veio quase imediatamente.

"Alguém que ouviu a chamada. Eu estava lá."

Gelo percorreu as minhas veias.

Havia uma testemunha.

Alguém sabia que o Pedro estava ao telemóvel.

"Onde?" escrevi.

"Café do outro lado da rua. O seu marido estava em alta-voz. A sua chefe gritava com ele. Ele estava distraído. Eu vi tudo."

A minha respiração ficou presa.

A polícia tinha dito que não havia testemunhas. Eles fecharam o caso. Acidente. Fim da história.

Mas não era o fim.

"Você falou com a polícia?" perguntei.

"Não. Não queria envolver-me."

Raiva borbulhou dentro de mim.

"O meu filho morreu! E você não queria envolver-se?"

"Sinto muito. Mas posso ajudar agora. Tenho uma gravação."

Uma gravação.

O meu mundo inclinou-se.

"O que quer?"

"Justiça para o seu filho. Encontre-me amanhã. Parque Central, perto da fonte. Meio-dia."

Antes que eu pudesse responder, outra mensagem chegou.

"Venha sozinha."

Olhei para a casa. Para as pessoas lá dentro, a fingir que se importavam. Para o Pedro, o centro das atenções, a receber palmadinhas nas costas.

Ele ia pagar.

Eu ia certificar-me disso.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022