Três dias depois, o Pedro enviou-me os papéis do divórcio por um mensageiro.
Assinei-os sem hesitação.
O documento estipulava que eu abdicava de todos os bens matrimoniais.
Não me importava. A minha liberdade não tinha preço.
Nessa mesma noite, a Sofia ligou-me.
"Parabéns pelo divórcio, Inês."
A voz dela estava a transbordar de felicidade mal disfarçada.
"Obrigada," respondi, seca.
"O Pedro está muito em baixo. Eu estou a tentar consolá-lo. Ele sente-se tão traído."
Consolá-lo? Eu podia imaginá-la nos braços dele, a "consolá-lo".
"Sofia, o que é que tu queres?"
"Oh, nada de especial. Só queria saber como estás. Encontraste um sítio para ficar? Precisas de dinheiro?"
A oferta dela era um insulto.
"Eu estou bem. Não preciso da tua ajuda."
"Que bom. Porque, sabes, o Pedro e eu estávamos a pensar... talvez devêssemos casar em breve. Para o ajudar a superar esta dor."
O anúncio não me surpreendeu.
Era o plano deles desde o início.
"Felicidades," disse eu, com a voz vazia.
"Obrigada! E, Inês, a sério, se precisares de alguma coisa para o bebé... podes pedir. Afinal, eu vou ser a nova mulher do Pedro. Sinto uma certa responsabilidade."
A audácia dela era inacreditável.
"Não, obrigada. O meu filho não precisa de nada que venha de ti ou do Pedro."
"És tão orgulhosa. Bem, a oferta fica de pé. Adeus, Inês."
Ela desligou.
Olhei para o meu reflexo na janela escura. Uma mulher grávida, sozinha, que tinha acabado de destruir o seu próprio casamento.
Mas eu não sentia arrependimento.
Senti alívio.
Abri o meu diário. As páginas estavam cheias da minha caligrafia, documentando cada mentira, cada ato de crueldade dissimulada.
O dia em que o Pedro "acidentalmente" derramou café a ferver na minha mão, uma semana antes de uma importante apresentação de trabalho.
A vez em que a Sofia "sem querer" me trancou na varanda durante horas, no inverno, resultando numa febre terrível.
As inúmeras vezes em que me fizeram sentir pequena, estúpida, paranóica.
Eles chamavam-lhe "brincadeiras".
Eu chamava-lhe tortura.
O bebé era a minha única saída. Eu tinha de o proteger. Mesmo que isso significasse que ele nunca conheceria o seu pai.