Sentei-me na cadeira ao lado da cama do Leo, o silêncio no quarto era pesado.
Ele adormeceu novamente, exausto pela dor e pela discussão.
Peguei no meu telemóvel. Abri a minha aplicação bancária.
Tínhamos uma conta conjunta. Era onde o salário dele entrava, onde as nossas poupanças estavam.
Sem hesitar, transferi metade do saldo para a minha conta pessoal.
Não era por vingança. Era por sobrevivência.
Eu sabia que isto ia ser uma guerra. E eu precisava de estar preparada.
Depois, abri as minhas mensagens e comecei a escrever para o João.
"Quando sairmos do hospital, eu e o Leo vamos ficar na casa da minha mãe. Podes ficar no nosso apartamento com a Catarina."
Enviei.
A resposta foi quase imediata. Uma chamada, não uma mensagem.
Rejeitei.
Ele ligou outra vez.
Rejeitei novamente e bloqueei o número dele.
Eu não tinha mais nada a dizer-lhe. As suas ações tinham falado mais alto do que quaisquer palavras que ele pudesse proferir.
Uma nova mensagem apareceu no meu ecrã. Era da minha sogra, Isabel.
"Sofia, o que é que estás a fazer? O João ligou-me, frenético. Disse que o bloqueaste e que estás a falar em sair de casa. E o que é esta história de transferires o dinheiro? Estás a tentar destruir esta família?"
Li a mensagem, um cansaço profundo a instalar-se nos meus ossos.
Ela não perguntou pelo Leo. Não perguntou como o seu neto estava. A sua única preocupação era o seu filho e a imagem da "família perfeita".
Digitei uma resposta.
"A família já estava destruída, Isabel. Eu estou apenas a recolher os pedaços que me pertencem. O seu neto está bem, obrigada por perguntar."
Enviei e bloqueei o número dela também.
Senti um clique na minha cabeça. Uma porta a fechar-se a uma parte da minha vida.
Eu estava sozinha nisto. Eu e o Leo.
E, estranhamente, em vez de medo, senti uma calma fria.
A incerteza do futuro era assustadora, mas era melhor do que a certeza da dor de ficar com o João.
Olhei para o meu filho a dormir. O seu peito subia e descia ritmicamente. O seu braço estava engessado, mas ele estava seguro. Ele estava comigo.
Isso era tudo o que importava.
"Vamos ficar bem, meu amor," sussurrei no silêncio. "Eu prometo."