O meu filho, Lucas, morreu no seu terceiro aniversário.
Ele morreu nos meus braços, o seu pequeno corpo a arrefecer gradualmente.
Naquele dia, o meu marido, Pedro, estava a celebrar o aniversário da filha do seu chefe, que por acaso era no mesmo dia que o do nosso filho.
Eu liguei-lhe inúmeras vezes, mas ele nunca atendeu.
Quando finalmente consegui falar com ele, a sua voz estava cheia de irritação.
"O que foi? Não te disse que estou ocupado? A filha do Sr. Almeida está a fazer anos, é uma grande festa. Não me incomodes com coisas sem importância."
A minha voz tremia, mas forcei-me a manter a calma.
"Pedro, o Lucas está muito doente. Ele está com febre alta e não para de vomitar. Por favor, vem para casa, precisamos de o levar ao hospital."
Do outro lado da linha, ouvi a música alta da festa e o riso da filha do seu chefe.
"Não sejas dramática, Sofia. Dá-lhe um remédio para a febre. Crianças ficam doentes o tempo todo. Não posso simplesmente sair daqui, é importante para a minha carreira."
Depois, ouvi a voz do seu chefe ao fundo.
"Pedro, a minha filha quer que lhe cantes os parabéns com ela."
"Já vou, Sr. Almeida!", respondeu o Pedro, a sua voz subitamente cheia de entusiasmo.
Depois, virou-se para o telefone.
"Olha, tenho de ir. Resolve isso sozinha. És a mãe dele, afinal de contas."
Ele desligou.
Olhei para o Lucas, o seu rosto estava pálido e os seus lábios azuis. O seu corpo tremia incontrolavelmente.
Não esperei mais. Chamei um táxi e corri para o hospital.
Mas era tarde demais.
O médico disse que foi uma meningite fulminante. Cada segundo contava.
Se tivéssemos chegado uma hora mais cedo, talvez ele tivesse sobrevivido.
Uma hora.
O tempo que passei a tentar ligar ao Pedro.
Sentei-me no chão frio do corredor do hospital, segurando o corpo sem vida do meu filho.
O mundo ficou em silêncio.
Quando o Pedro finalmente apareceu no hospital, horas depois, o seu cabelo estava um pouco despenteado e ele cheirava a champanhe.
Ele viu-me e franziu o sobrolho.
"O que aconteceu? Porque é que estás no chão? Onde está o Lucas?"
Eu não respondi. Apenas olhei para ele, sentindo um vazio absoluto.
Ele olhou para o pequeno corpo coberto por um lençol branco nos meus braços. O seu rosto ficou pálido.
"Não... não pode ser."
Eu levantei-me lentamente, o meu corpo rígido de dor.
"Vamos divorciar-nos, Pedro."
A minha voz soou estranha, como se pertencesse a outra pessoa.
Ele olhou para mim, chocado. A sua dor pareceu transformar-se em raiva.
"Divorciar-te? Agora? O nosso filho acabou de... e tu estás a falar em divórcio? Que tipo de mãe és tu?"
A sua acusação não me atingiu. Nada me podia atingir mais.
"Tu não estavas lá", disse eu, simplesmente. "Eu liguei. Ele precisava de ti. E tu estavas a cantar os parabéns a outra criança."
Cada palavra era uma pedra que eu atirava.
"Isso não é justo! Eu não sabia que era tão grave! Eu estava a trabalhar pelo nosso futuro! Pelo futuro dele!"
O futuro dele.
O futuro dele estava ali, debaixo daquele lençol branco.
Não havia mais nada a dizer. A minha decisão estava tomada.
O amor que eu sentia por ele morreu juntamente com o meu filho.