Custódia e Consequências: A Mãe Que Não Desiste
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Capítulo 2

Passaram-se duas semanas.

A vida assentou numa nova rotina, mais silenciosa.

Eu e a Sofia. Só nós as duas.

O Pedro não ligou. Nem uma vez.

Imaginei-o em Paris, a jantar à luz de velas com a Helena, a "parceira de negócios crucial".

Numa terça-feira à tarde, recebi um email da escola da Sofia.

"Reunião de Pais e Encarregados de Educação. Próxima sexta-feira, 10h. Presença obrigatória para discutir o progresso e o comportamento dos alunos."

Reencaminhei o email para o Pedro.

A minha mensagem foi simples.

"Reunião importante na escola da Sofia. Sexta-feira, 10h. Podes ir?"

A resposta dele chegou em menos de um minuto.

"Impossível. Tenho uma reunião de conselho exatamente a essa hora. Não posso mesmo faltar. Vai tu e depois contas-me."

Senti uma onda de frustração.

Era sempre a mesma coisa.

Respondi: "Pedro, a professora quer falar com os dois. A Sofia tem andado mais calada na sala de aula. Eles estão preocupados."

A resposta dele foi fria.

"Clara, eu dirijo uma empresa. Não posso simplesmente largar tudo por causa de uma reunião escolar. A Helena e eu estamos a fechar o maior negócio da história da empresa. Entendes a pressão? Sê razoável."

A menção à Helena foi deliberada.

Ele sabia que me magoava.

"Ser razoável é esperar que um pai se preocupe com a filha?"

Não houve resposta.

Na sexta-feira, fui à reunião sozinha.

Sentei-me numa cadeira minúscula, em frente à professora da Sofia, a Dona Matilde.

Ela era uma mulher amável, com olhos preocupados.

"Senhora Alves, obrigada por ter vindo. O pai da Sofia não pôde vir?"

"Ele tinha uma reunião de trabalho inadiável," respondi, a desculpa a soar oca até para mim.

Dona Matilde suspirou suavemente.

"Compreendo. Bem, o motivo pelo qual pedi esta reunião é a Sofia. Ela é uma menina doce e inteligente, mas ultimamente... ela está muito distante. Durante as atividades em grupo, ela fica sozinha no canto. E no outro dia, durante a aula de artes, pedi-lhes que desenhassem a sua família."

Ela pegou numa folha de papel e colocou-a na mesa à minha frente.

O meu coração apertou.

Era um desenho típico de criança. Uma casa, o sol, uma árvore.

Havia duas figuras. Uma grande, com cabelo comprido, a sorrir. Era eu.

Ao meu lado, uma figura pequena. A Sofia.

Não havia mais ninguém no desenho.

"Ela disse-me: 'Esta é a minha família. Só a mamã e eu'", disse a Dona Matilde, a sua voz gentil. "Eu perguntei pelo pai. Ela apenas encolheu os ombros e disse 'O papá está sempre a trabalhar'."

As lágrimas picaram-me nos olhos.

Tentei contê-las.

"Nós... divorciámo-nos recentemente," confessei.

A professora assentiu, a sua expressão cheia de compaixão. "Isso explica muita coisa. As crianças sentem tudo, Senhora Alves. Ela precisa de apoio. De ambos."

Saí da escola a sentir-me pesada.

O desenho estava na minha mala. Um pedaço de papel que representava a dolorosa realidade da minha filha.

Quando cheguei ao carro, a raiva sobrepôs-se à tristeza.

Liguei ao Pedro.

Ele atendeu, a sua voz irritada.

"Estou a meio de uma coisa, Clara."

"Acabei de sair da escola da Sofia."

"E então? O que é que a professora disse?"

"Ela disse que a nossa filha desenhou a família dela. E no desenho, só estamos eu e ela. Ela disse à professora que o papá está sempre a trabalhar."

Houve um silêncio do outro lado.

"Ela está a sentir a tua falta, Pedro. Ela está a sofrer."

"Não dramatizes," disse ele, a sua voz a endurecer. "As crianças fazem essas coisas. É uma fase. Ela vai superar."

"Superar? Ela tem cinco anos e pensa que o pai não faz parte da vida dela! Não vês o quão grave isto é?"

Ouvi a voz da Helena ao fundo. "Pedro? Está tudo bem?"

Ele respondeu-lhe, a sua voz a suavizar instantaneamente. "Sim, querida. Só a Clara a ser... a Clara. Já despacho isto."

Ele voltou a falar comigo, o seu tom novamente áspero.

"Olha, tenho de ir. O conselho está à espera. Vou ligar à Sofia mais logo."

"Não te incomodes," disse eu, a minha voz a tremer de raiva contida. "Não faças promessas que não vais cumprir."

Desliguei o telefone.

Agarrei o volante com força, as minhas mãos a tremer.

Ele não entendia.

Ou talvez, pior ainda, ele simplesmente não se importava.

Para ele, a Sofia era um item numa lista de tarefas, uma obrigação a ser cumprida quando fosse conveniente.

Para mim, ela era o meu mundo inteiro.

E naquele momento, percebi que teria de lutar por ela.

Sozinha.

            
            

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