Custódia e Consequências: A Mãe Que Não Desiste
img img Custódia e Consequências: A Mãe Que Não Desiste img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

No dia seguinte, um sábado, decidi levar a Sofia a um parque de diversões.

Ela precisava de um dia de pura alegria, sem sombras nem preocupações.

O sorriso dela quando viu a roda gigante foi a minha recompensa.

Comemos algodão doce, andámos nos carrosséis e rimos até a barriga doer.

Por algumas horas, fomos apenas uma mãe e uma filha a divertirem-se.

Enquanto estávamos na fila para a montanha-russa infantil, o meu telemóvel vibrou.

Era uma notificação de uma rede social.

Um amigo em comum tinha publicado fotos.

Abri a notificação por curiosidade.

O meu estômago afundou.

As fotos eram de Paris.

O Pedro e a Helena, a sorrir para a câmara.

Numa foto, estavam em frente à Torre Eiffel, os braços um à volta do outro.

Noutra, estavam num restaurante chique, a brindar com taças de champanhe.

A legenda dizia: "A celebrar o fecho do maior negócio de sempre! Parabéns a esta dupla de sucesso, Pedro e Helena!"

As fotos eram de sexta-feira.

A hora da publicação correspondia exatamente à hora da reunião na escola da Sofia.

A "reunião de conselho" dele.

Senti o sangue a fugir-me do rosto.

A mentira era tão descarada, tão cruel.

Ele não estava numa sala de reuniões.

Ele estava a celebrar em Paris.

Com ela.

"Mamã? Estás bem?"

A voz da Sofia tirou-me do meu torpor.

Olhei para ela, para o seu rosto inocente e preocupado.

Forcei um sorriso. "Estou ótima, meu amor. Só vi uma mensagem de trabalho. Olha, é a nossa vez!"

Empurrei a raiva e a dor para o fundo da minha mente.

Este dia era para a Sofia.

Eu não ia deixar que ele o estragasse.

Mas à noite, depois de a Sofia adormecer, a raiva voltou.

Sentei-me no sofá escuro, o brilho do telemóvel a iluminar as fotos.

Ampliei o rosto dele.

Ele parecia feliz. Genuinamente feliz.

Um tipo de felicidade que eu não via nele há anos.

Uma felicidade que ele nunca partilhava connosco.

Senti-me uma idiota.

Por ter acreditado nele, mesmo que por um segundo.

Por ter defendido a sua ausência.

Por ter reencaminhado o email da escola, a pensar que talvez, só talvez, desta vez ele aparecesse.

O meu telemóvel tocou.

Era ele.

A chamada que ele prometera fazer.

Atendi, a minha voz fria como gelo.

"Olá."

"Olá! Então, como está a minha princesinha?" A sua voz era alegre, despreocupada.

"Ela está a dormir," respondi, sem rodeios.

"Ah, que pena. Queria falar com ela. O dia correu bem?"

"Sim, fomos a um parque de diversões."

"Ótimo! Vês? Não precisas de te preocupar tanto. Ela está bem."

Não consegui conter-me.

"Como foi a tua reunião de conselho, Pedro?"

Houve uma pequena hesitação.

"Foi... longa. Cansativa. Mas produtiva. Fechámos o negócio."

"Parabéns," disse eu, a minha voz carregada de sarcasmo. "Deves ter celebrado bastante."

"Sim, a equipa toda foi jantar. Foi bom para o moral."

"A equipa toda? Ou só tu e a Helena?"

O silêncio do outro lado foi a minha resposta.

"Eu vi as fotos, Pedro. Em Paris. Enquanto eu estava sentada numa cadeira minúscula a ouvir que a nossa filha se sente abandonada por ti."

Ele suspirou, um som de irritação.

"Clara, não é o que parece."

"Não? Então o que é? Ilumina-me. A Torre Eiffel faz parte do vosso novo escritório?"

"Foi uma viagem de negócios! A celebração aconteceu depois. Qual é o problema?"

"O problema, Pedro, é que mentiste! Mentiste sobre uma reunião de conselho para evitares ir à escola da tua filha. Preferiste ir celebrar com a tua amante a assumires as tuas responsabilidades como pai!"

"Não lhe chames isso!" gritou ele. "A Helena é minha colega!"

"Colegas não se abraçam em frente à Torre Eiffel como se estivessem em lua de mel!"

"Estás a ser histérica e ciumenta! O nosso casamento acabou, Clara! Eu não te devo explicações sobre a minha vida pessoal!"

"Deves explicações à tua filha! Ela é a tua responsabilidade! Uma responsabilidade que tu abandonaste para ires passear para Paris!"

A minha voz estava a subir, a raiva a transbordar.

"Eu não a abandonei! Eu sustento-a! Dou-lhe tudo o que ela precisa!"

"Ela não precisa do teu dinheiro, Pedro! Ela precisa do pai dela! Mas é óbvio que esse papel já foi preenchido por coisas mais 'importantes'."

"Se vais continuar com este drama, eu desligo."

"Desliga," desafiei-o. "Foge. É o que fazes melhor."

Ele desligou.

Atirei o telemóvel para o outro lado do sofá.

As lágrimas que eu tinha contido durante todo o dia finalmente caíram.

Não eram lágrimas de tristeza.

Eram lágrimas de pura raiva.

Ele não tinha apenas mentido.

Ele tinha-me desrespeitado. Tinha desrespeitado a nossa filha.

E tinha-o feito sem um pingo de remorso.

Naquele momento, algo mudou dentro de mim.

A dor deu lugar à determinação.

Ele achava que podia simplesmente apagar-nos da sua vida, tratando-nos como um inconveniente.

Ele estava muito enganado.

Eu não ia deixar que ele saísse impune.

Não mais.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022