A Promessa Quebrada do Meu Marido
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Capítulo 2

Tirei o cateter, vesti as minhas roupas e saí do hospital como um fantasma.

O mundo lá fora parecia cinzento e desfocado.

A minha sogra, a Dona Helena, ligou-me assim que cheguei a casa. A sua voz era cortante.

"Sofia! O que é que fizeste para perturbar o Pedro? Ele está uma pilha de nervos!"

Respirei fundo, tentando manter a calma.

"Ele cancelou a cirurgia. Ele vai dar o rim dele à Clara."

Houve uma pausa.

"E então? A Clara é a irmã dele, o sangue dele! A vida dela está em perigo. Tu podes esperar. Podes fazer diálise."

"Eu não posso 'esperar' para sempre, Dona Helena. O médico disse que preciso do transplante urgentemente."

"Não sejas egoísta! A família vem sempre em primeiro lugar. Devias apoiar o teu marido nesta decisão difícil, não causar mais problemas. És a mulher dele, age como tal!"

Ela desligou-me o telefone na cara.

A mulher dele.

As palavras soaram ocas. Eu era a mulher dele na saúde, mas na doença, eu era um obstáculo.

Olhei para o nosso apartamento, para as fotografias na parede. Nós a sorrir na nossa lua de mel, a celebrar o nosso aniversário.

Tudo parecia uma mentira.

O Pedro chegou a casa tarde nessa noite. Ele parecia cansado, mas não havia culpa nos seus olhos.

"Sofia, eu sei que estás chateada."

"Chateada?", a minha voz saiu como um sussurro rouco. "Tu deixaste-me na mesa de operações, Pedro. Tu prometeste."

"A Clara quase morreu! O que é que tu querias que eu fizesse? Deixasse a minha irmã morrer?"

Ele andava de um lado para o outro na sala, a sua agitação a encher o espaço.

"Os médicos disseram que os rins dela foram esmagados no acidente. Ela precisa de um transplante imediatamente. Eu sou o único compatível na família. Foi o destino."

Destino.

Ele chamou-lhe destino.

"E o nosso destino, Pedro? A tua promessa para mim?"

Ele parou e olhou para mim, a sua expressão a endurecer.

"Tu podes fazer diálise. A Clara não. É simples. Não tornes isto mais difícil do que já é."

Naquele momento, eu vi-o claramente pela primeira vez.

O homem que eu amava não existia. No seu lugar estava um estranho que pesava a minha vida contra a da irmã e me considerava um peso menor.

"Eu quero o divórcio", disse eu, a decisão a solidificar-se dentro de mim.

Ele riu, um som amargo e incrédulo.

"Divórcio? Não sejas ridícula. Estás doente, precisas de mim. Quem é que vai cuidar de ti?"

"Eu prefiro morrer sozinha a viver com um mentiroso."

A sua cara contorceu-se de raiva.

"Estás a ser melodramática. Quando a Clara estiver melhor, vamos encontrar outro dador para ti. Agora para com este disparate."

Ele virou-se e foi para o quarto, fechando a porta atrás de si.

Deixando-me sozinha na sala, com o eco das suas palavras e a certeza esmagadora de que eu estava completamente sozinha.

            
            

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