O meu filho, Leo, morreu no seu terceiro aniversário.
A causa da morte foi uma reação alérgica aguda a amendoins.
Eu estava a caminho de casa, com o seu bolo de aniversário favorito no banco do passageiro.
Mas recebi uma chamada do hospital.
Quando cheguei, a pequena mão do Leo já estava fria.
O meu marido, Miguel, estava sentado ao lado da cama, a chorar silenciosamente.
Ele não me olhou.
A minha sogra, Joana, correu na minha direção assim que me viu, as suas unhas a cravarem-se no meu braço.
"Foi tudo culpa tua! És uma mãe imprestável! Como pudeste deixar o Leo comer amendoins? Sabias que ele era alérgico!"
A sua voz era aguda e cheia de ódio.
Eu olhei para o Miguel, esperando que ele dissesse alguma coisa.
Ele era o pai do Leo, ele sabia que eu nunca faria mal ao nosso filho.
Mas ele apenas levantou a cabeça, os seus olhos vermelhos e inchados, e disse com uma voz rouca, "Catarina, como pudeste ser tão descuidada?"
O meu mundo desabou.
A culpa não foi minha.
Eu tinha lembrado a todos, repetidamente, sobre a alergia severa do Leo.
Eu tinha escrito em letras grandes na porta do frigorífico, "NÃO DAR AMENDOINS AO LEO".
"Não fui eu", a minha voz tremia, mas eu tentei manter a calma.
"Foi a tua mãe que lhe deu os biscoitos de amendoim. Eu vi-a."
A Joana ficou pálida, depois gritou ainda mais alto.
"Estás a mentir! Estás a tentar culpar-me para te salvares! És uma mulher cruel!"
Ela virou-se para o Miguel, a chorar. "Miguel, olha para ela! O nosso Leo acabou de morrer, e ela já está a mentir e a culpar uma idosa! Que coração de pedra!"
Miguel levantou-se e veio até mim.
Por um momento, pensei que ele ia defender-me.
Mas ele apenas me agarrou pelo ombro.
"Catarina, pede desculpa à minha mãe. Ela está de coração partido. Não tornes as coisas piores."
"Pedir desculpa?", eu ri, um som oco e sem alegria.
"Ela matou o nosso filho, e queres que eu peça desculpa?"
Ele deu-me um estalo.
A força do golpe fez a minha cabeça girar.
O som ecoou no corredor silencioso do hospital.
"A minha mãe não faria isso. Ela amava o Leo", disse ele, a sua voz fria como gelo.
"Tu é que estavas sempre a queixar-te de como era difícil cuidar dele. Talvez estivesses cansada."
Eu olhei para ele, incrédula.
O homem com quem eu partilhei a minha vida, o pai do meu filho, estava a acusar-me da sua morte.
O meu coração, que já estava partido em mil pedaços, sentiu uma dor nova e aguda.
Eu não chorei.
As lágrimas não vinham.
Apenas um vazio gelado se instalou no meu peito.
Eu olhei para o rosto do meu filho uma última vez, memorizando cada detalhe.
Depois, virei-me e saí do hospital, sem olhar para trás.
Não havia mais nada para mim ali.
A minha família tinha desaparecido.