Quando acordei, o quarto do hospital estava escuro, apenas a luz do corredor entrava pela porta entreaberta.
A minha garganta estava seca, e o meu corpo inteiro doía.
Olhei para a cama ao meu lado, vazia. Onde estava a minha mãe?
Tentei sentar-me, mas uma dor aguda no meu abdómen fez-me cair de volta nos lençóis.
Então, lembrei-me. O acidente. A cirurgia.
O meu bebé.
A porta abriu-se devagar, e o meu marido, Pedro, entrou. Ele não me olhou.
Em vez disso, foi direto para a cama vazia e começou a arrumar os lençóis que a minha mãe tinha usado.
"Onde está a mamã?" perguntei, a minha voz rouca.
Ele finalmente virou-se para mim, o seu rosto sem expressão.
"Ela não aguentou. Faleceu há uma hora."
O ar saiu dos meus pulmões. O quarto ficou em silêncio, exceto pelo som distante de um monitor cardíaco no corredor.
Eu não chorei. Eu não conseguia.
Apenas olhei para ele, para o homem com quem eu era casada há três anos.
"Onde estavas tu, Pedro?"
"Eu estava com a Sofia. Ela partiu uma perna. O carro dela foi atingido por um ramo de árvore que caiu durante a tempestade."
Sofia. A sua ex-namorada. Aquela que ele dizia ser apenas uma amiga.
"Ela estava no hospital aqui perto. Eu tinha de a ajudar. Ela não tem ninguém."
"E nós?" A minha voz era um sussurro. "E a minha mãe? E o nosso filho?"
A sua cara contraiu-se de irritação.
"O que querias que eu fizesse, Lúcia? Eu não sou médico. Não podia salvar a tua mãe. E o bebé... já se foi."
Ele disse aquilo com uma frieza que me gelou os ossos.
"O funeral da tua mãe é depois de amanhã. Eu já tratei de tudo."
Ele terminou de arrumar a cama, transformando-a num espaço limpo e anónimo. Como se a minha mãe nunca tivesse estado ali.
"Descansa. Precisas de recuperar."
Ele virou-se e saiu, fechando a porta atrás de si.
Deixando-me sozinha no escuro com a notícia da morte da minha mãe e o fantasma do meu filho.