O rosto do Miguel mudou instantaneamente.
A sua fúria explodiu como um vulcão.
"O quê? Tu abortaste o meu filho? Eva, enlouqueceste?"
Ele agarrou-me pelos ombros, a sua força era brutal.
"Quem te deu o direito? Aquele era o meu filho!"
Eu olhei para ele, sentindo a dor nos meus ombros, mas a dor no meu coração era muito maior.
"Teu filho?"
Eu ri, um riso amargo e desolado.
"Miguel, tens a certeza que era teu filho?"
Joguei o relatório do teste de paternidade na cara dele.
"Abre os olhos e vê bem. Este bebé não tinha nada a ver contigo."
O Miguel ficou paralisado, a sua expressão congelou.
Ele pegou no relatório, os seus olhos percorreram as palavras, e o seu rosto ficou pálido.
"Isto... isto é impossível! É falso! Tu falsificaste isto para te divorciares de mim!"
Ele rasgou o relatório em pedaços, atirando-os ao ar como confetes numa celebração macabra.
"Eva, tu tiveste um caso! Tu traíste-me!"
A sua acusação era a coisa mais ridícula que eu já tinha ouvido.
Nesse momento, a porta abriu-se e a Clara entrou com a Sofia.
A Sofia, com a sua aparência delicada e inocente, olhou para a cena com os olhos arregalados.
"Tia, Miguel, o que se passa?"
A Clara viu os pedaços de papel no chão e a minha expressão fria.
Ela correu para o lado do Miguel, protegendo-o como se eu fosse uma ameaça.
"Eva, o que fizeste ao meu filho? Porque é que estás a gritar com ele?"
Eu olhei para ela, a raiva a borbulhar dentro de mim.
"Pergunta ao teu filho precioso o que ele fez. Pergunta-lhe porque é que o bebé que eu carregava não era dele."
A Clara ficou chocada.
"Do que estás a falar? Estás a insinuar que o meu filho não é capaz?"
O Miguel, recuperando do choque, apontou para mim e gritou: "Mãe, ela traiu-me! Ela engravidou de outro homem e agora quer culpar-me!"
A Sofia aproximou-se, pegando no braço do Miguel com uma expressão de preocupação.
"Miguel, não fiques assim. A Eva não deve ter feito de propósito. Talvez tenha sido um erro."
A sua voz era suave e reconfortante, mas as suas palavras eram venenosas.
Eu olhei para ela, para a sua falsa inocência.
"Um erro? Engravidar de outro homem é um erro?"
Eu ri-me.
"Sofia, és muito generosa."
A Clara, ouvindo as palavras do Miguel, explodiu.
"Sua desavergonhada! Como te atreves a fazer uma coisa destas à nossa família? Queres o divórcio? Ótimo! Sai da minha casa agora mesmo! Não leves nada contigo, nem um cêntimo!"
Ela apontou para a porta, o seu rosto distorcido pela raiva.
Eu olhei para eles os três.
O marido que me acusava, a sogra que me insultava, e a sobrinha que fingia ser boazinha.
Senti-me como se estivesse a ver uma peça de teatro absurda.
"Não te preocupes," eu disse, a minha voz fria como gelo.
"Eu não quero nada desta casa. Só quero o divórcio."
Virei-me e saí, sem olhar para trás.
Não havia mais nada para mim ali.