O investigador particular, o Senhor Alves, era um homem discreto e eficiente.
Duas semanas depois, ele marcou um encontro connosco.
Ele colocou uma série de fotografias e um relatório sobre a mesa.
"Senhor Léo, Senhora Eva. O que descobriram é perturbador."
O Léo pegou nas fotografias.
Eu olhei por cima do ombro dele.
Eram fotografias do Miguel.
Com a Sofia.
Em situações comprometedoras.
A beijarem-se. A entrarem num hotel.
O meu estômago revirou-se.
"Eles têm um caso," disse o Léo, a sua voz baixa e cheia de raiva.
"Sim," confirmou o Senhor Alves. "Já há algum tempo, pelo que parece. Começou antes mesmo de a Sofia regressar oficialmente do estrangeiro. Ela fez várias viagens secretas para cá."
Então era por isso que a Clara insistia tanto para que a Sofia ficasse em nossa casa.
Era para facilitar o caso deles debaixo do meu nariz.
"Mas isso não é tudo," continuou o Senhor Alves, apontando para o relatório.
"Investigámos a noite da festa de aniversário do Senhor Miguel. Ele não ficou consigo a noite toda. Ele saiu durante cerca de duas horas."
O meu coração batia descontroladamente.
"E," disse ele, fazendo uma pausa dramática, "a Sofia não estava no estrangeiro nessa altura. Ela estava na cidade. Ficou no mesmo hotel onde foi fotografada com o Miguel."
A peça final do puzzle encaixou-se.
Mas ainda havia uma pergunta.
"Se o Miguel estava com a Sofia, quem..."
A minha voz falhou.
O Senhor Alves pigarreou.
"Descobrimos algo sobre o passado da vossa tia, a Senhora Clara."
Ele mostrou-nos outro documento.
"Ela tem um irmão mais novo, o Ricardo. Ele tem um longo historial criminal. Assalto, fraude... e agressão sexual."
Um arrepio percorreu a minha espinha.
"Na noite da festa, o Ricardo foi visto a entrar no vosso prédio. Um vizinho identificou-o."
O Léo levantou-se de um salto.
"Aquele monstro!"
Eu senti o chão a fugir debaixo dos meus pés.
A noite da festa. A bebida. O apagão.
Tudo fazia um sentido horrível agora.
A Clara. Ela deve ter planeado tudo.
Ela queria livrar-se de mim. Ela queria que o seu filho ficasse com a sua sobrinha.
Mas porquê de uma forma tão cruel?
"Ela drogou-me," sussurrei, a compreensão a atingir-me como um soco. "Na festa. A bebida que ela me deu."
O Léo abraçou-me, o seu corpo a tremer de raiva.
"Eu vou matá-los. Eu juro que os vou matar."
Eu chorei.
Chorei pelo meu bebé perdido.
Chorei pela minha inocência roubada.
E chorei pela traição da minha própria família.