Saí daquela casa sem levar nada, apenas com a roupa do corpo e um coração partido.
Andei sem rumo pelas ruas, o sol da tarde a queimar-me a pele, mas eu não sentia nada.
O meu telemóvel tocou. Era o meu irmão mais velho, o Léo.
"Eva, onde estás? Soube o que aconteceu. Estás bem?"
A voz preocupada do Léo foi a primeira coisa calorosa que ouvi em dias.
As lágrimas que eu tinha segurado finalmente caíram.
"Léo..."
A minha voz falhou.
"Estou a ir para aí. Envia-me a tua localização."
Ele não fez mais perguntas. Ele sempre foi assim, direto e protetor.
Sentei-me num banco de jardim e esperei.
Vinte minutos depois, o carro do Léo parou à minha frente.
Ele saiu, correu até mim e abraçou-me com força.
"Está tudo bem. Eu estou aqui."
Naquele abraço, senti-me segura pela primeira vez em muito tempo.
Levei-o de volta ao meu apartamento, um pequeno estúdio que eu tinha comprado antes de casar.
Contei-lhe tudo. Sobre o teste de paternidade, sobre o aborto, sobre a atitude do Miguel e da Clara.
O Léo ouviu em silêncio, o seu rosto a endurecer a cada palavra.
Quando terminei, ele bateu com o punho na mesa.
"Aquele desgraçado! Como é que ele se atreve a acusar-te? E a minha tia? Sempre soube que ela não gostava de ti, mas isto é demais!"
A Clara era irmã da nossa mãe. A nossa mãe faleceu quando éramos jovens, e a Clara sempre nos tratou com uma certa distância, como se fôssemos um fardo.
"Eva, não te preocupes. Vou contratar o melhor advogado. Não vamos deixar que eles se safem com isto."
Eu abanei a cabeça.
"Léo, eu só quero o divórcio o mais rápido possível. Não quero mais nada deles."
"Não," disse o Léo, com firmeza.
"Eles humilharam-te. Eles têm de pagar. E há outra coisa que não bate certo."
Ele olhou para mim.
"Eva, tu tens a certeza de que não estiveste com mais ninguém?"
"Tenho a certeza absoluta," respondi sem hesitar.
"Então," disse o Léo, os seus olhos a estreitarem-se, "há algo de muito errado nesta história. E eu vou descobrir o que é."
Nos dias seguintes, o Léo moveu mundos e fundos.
Ele contratou um advogado e também um investigador particular.
"Se o bebé não era do Miguel, e tu não estiveste com mais ninguém, só há uma explicação," disse o Léo uma noite.
"Alguém te fez alguma coisa."
A ideia era assustadora.
"Mas quando? Como?"
"Lembras-te da festa de aniversário do Miguel, há oito meses? Estavas muito bêbada nessa noite. Ele disse que te levou para casa."
Eu esforcei-me por lembrar.
A memória estava turva. Lembro-me de beber muito, de me sentir tonta. Lembro-me do Miguel a ajudar-me a ir para o quarto. Depois disso, tudo era um borrão.
"O Miguel não me faria mal," disse eu, mas a minha voz vacilou.
"Talvez não ele," disse o Léo, com um tom sombrio. "Mas talvez outra pessoa."