A minha mãe não falou comigo durante o resto do dia. Ela virava o rosto sempre que eu tentava iniciar uma conversa. O silêncio era pesado, cheio de desaprovação.
À noite, o meu primo, Tiago, veio visitar-me. Ele era a única pessoa da família com quem eu ainda tinha algum contacto.
"Ouvi dizer que estás a causar problemas", disse ele, sentando-se na cadeira que Pedro tinha ocupado.
"Estou apenas a tentar salvar-me", respondi, olhando para o meu gesso no tornozelo.
Tiago suspirou. "Olha, Sofia, eu sei que o Pedro pode ser um idiota arrogante. Mas ele é rico. Ele pode dar-te uma vida boa. Pensa nisso."
"Eu não quero uma vida boa com alguém que me trata como um objeto."
"Então o que queres? Voltar a viver num apartamento pequeno, a lutar para pagar as contas? A tua mãe não merece isso. Ela já sofreu o suficiente."
Ele tinha razão. A minha mãe tinha trabalhado em dois empregos para me criar depois que o meu pai nos abandonou. Ela merecia uma vida confortável. E Pedro era a sua passagem para essa vida.
"É por isso que ela o defende tanto", disse eu, mais para mim mesma do que para ele.
"Claro. Ela vê nele a segurança que nunca teve. Se tu o deixares, não estás a magoar apenas a ti, estás a destruir os sonhos dela."
Senti-me presa. Cada escolha que eu fazia parecia errada. Ficar com Pedro significava sacrificar a minha própria felicidade. Deixá-lo significava esmagar as esperanças da minha mãe.
"O que devo fazer, Tiago?"
Ele encolheu os ombros. "Não sei. Mas pensa bem. Às vezes, na vida, temos de fazer sacrifícios pelo bem maior."
O "bem maior". Ele queria dizer o bem-estar da minha mãe.
Quando Tiago saiu, fiquei a olhar para o teto, sentindo-me completamente sozinha. A minha mãe dormia na cama ao lado, a sua respiração suave e regular. Ela parecia tão pacífica, a sonhar com a vida perfeita que o seu genro lhe proporcionaria.
E eu era o único obstáculo no caminho desse sonho.