Na manhã seguinte, acordei com a voz do Dr. Mendes. Ele estava a falar com a minha mãe em voz baixa.
"As suas análises voltaram, Clara. Receio que não sejam boas notícias."
Sentei-me na cama, o meu coração a acelerar.
"O que se passa, doutor?" perguntou a minha mãe, a sua voz a tremer.
"O cancro voltou. E desta vez, é mais agressivo. Precisamos de iniciar a quimioterapia imediatamente."
O mundo pareceu parar. Cancro. A palavra ecoou na minha cabeça. A minha mãe já tinha lutado contra o cancro da mama cinco anos antes. Pensávamos que ela o tinha vencido.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Olhei para a minha mãe. Ela estava pálida como um fantasma, os seus olhos fixos no médico, cheios de medo.
Pedro chegou pouco depois, trazendo o pequeno-almoço. Quando soube da notícia, a sua expressão tornou-se séria. Ele abraçou a minha mãe com força.
"Não se preocupe, Clara. Eu estou aqui. Nós vamos passar por isto juntos. Eu vou pagar pelo melhor tratamento, não importa o custo."
A minha mãe chorou nos seus braços, agarrando-se a ele como se ele fosse a sua única salvação.
E naquele momento, eu soube que tinha perdido.
Como poderia eu tirar-lhe este homem? O homem que prometia salvá-la, que tinha os recursos para lhe dar o melhor tratamento que o dinheiro podia comprar. Deixá-lo agora não seria apenas cruel, seria uma sentença de morte.
Senti-me doente. A minha rebelião, a minha luta pela liberdade, tudo parecia tão egoísta e insignificante agora.
Pedro olhou para mim por cima do ombro da minha mãe. O seu olhar era triunfante. Ele sabia que tinha ganhado. Ele tinha-me encurralado.
Eu não tinha escolha. Tinha de me render.