Os beijos do Herik aos poucos ela foi se acostumando, e ela achava muito bom, mas sempre que estavam juntos ele esquecia e tentava abraçá-la, tocá-la, mas sem que ela mesmo percebesse o empurrava para longe dela, mas eles sempre se entendiam. E ele pedia para ela ter paciência com ele. Irônico não? Ele pediu para ela ter paciência com ele, quando na verdade, era ele quem estava tendo toda paciência do mundo com ela!
Apesar de continuar apanhando do seu padrasto, Anna não se importava! Ela tinha o Herik que preenchia um vazio dentro dela. Ou pelo menos pensava que era o suficiente até duas semanas depois do seu aniversário de dezesseis anos.
A situação deles continua a mesma. Não tinham comida em casa, Anna mal conseguia pagar a luz e a água. Não era fácil viver aquela vida, mas Anna tinha esperança que uma hora as coisas iam melhorar.
Herik sempre pedia para levá-la em casa, mas ela sempre arrumava uma desculpa. Anna tinha vergonha de mostrar a ele sua vida! Ainda mais se ele encontrasse seu padrasto bêbado, ela tinha medo só de pensar.
Anna recebeu o dinheiro da dona Lola e pegou uma pequena parte. Ela precisava comprar umas coisas de menina, shampoo, absorvente, sabonete... essas coisas, mas quando chegou em casa e entregou apenas uma parte do dinheiro ao seu padrasto.
Aquela foi a pior surra de todas!
- Onde está o resto? Cadê o meu dinheiro? - Grita ele estético.
- Eu precisei comprar umas coisas e ...
- Não me interessa! Esse dinheiro não dá pra nada. Some daqui e só volta quando tiver o dinheiro. - Grita ele e Anna saiu correndo.
Anna saiu correndo antes que ele pudesse lhe pegar, para bater nela. Ela ficou perambulando pela cidade até muito tarde. Ela não sabia o que fazer e não tinha de onde tirar o dinheiro.
Às duas da madrugada ela resolveu voltar para casa. Não tinha mais ninguém nas ruas e ela estava com medo de ficar lá. Pensando que há essas horas seu padrasto já está dormindo de bêbado e não iria ver ela chegar, decidiu ir para a casa. Foi a pior ideia que ela teve na vida!
Quando chegou, entrou bem quietinha, as luzes estavam apagadas. Ela não ouviu barulho e seguiu pro seu quarto ainda no escuro, quando vai trancar a porta, seu padrasto a impede, colocando o pé entre a porta.
Seu coração dispara, ela já sabia o que ia acontecer.
- Cadê meu dinheiro?
- Eu não tenho. Entreguei tudo a você. - Falou quase num sussurro, aterrorizada de medo.
- Eu não quero saber, falei para você só voltar quando tivesse meu dinheiro todo! - Ele fala e empurra a porta jogando a Anna para trás, abrindo a porta com tudo.
Anna percebe que ele tem um fio grosso na mão, não é mais a cinta. Parece fios de luz um pouco mais grossos. E o desespero tomou conta dela, e ela só pensou em correr. Ela se vira e sai correndo para pular a janela. No caminho joga uma mesinha no chão tentando impedir ele de chegar até ela.
- Você vai pagar por isso sua vadiazinha! Eu falei para você não voltar enquanto não conseguisse o dinheiro. Volta aqui... - Ele diz e pula a mesinha correndo atrás dela.
O quarto era pequeno, mas naquele momento parecia que tinha quilômetros e Anna não conseguiu chegar até a janela a tempo.
- Não adianta correr, você sabe que eu vou te pegar e será pior ainda...
Quando Anna ergue a perna para pular, ele agarra seu cabelo e puxa ela para dentro novamente.
- Eu preciso beber e você não presta nem para arranjar dinheiro. Você não presta para nada, por que não morreu junto com sua mãe? Eu não precisaria criar você! Garota ingrata.
Ele joga ela no chão com força. E o que ela pensou que não poderia piorar, piorou ainda mais. Com o fio que tinha em mãos começou a bater nela com muita força.
Anna tentou gritar por ajuda, estava doendo mais que qualquer surra que ela levou, mas ele dizia que se ela gritasse seria pior. E de qualquer forma a casa deles era a última da rua. Ninguém ouviria!
- Você vai pagar garota! Aquele dinheiro não é o bastante, eu devo no bar e preciso pagar ou não iram me vender mais. - Vai falando enquanto bate na Anna, era visível que ele estava embriagado.
Anna não falava nada, porque aprendeu que era pior. Ele continuava lhe batendo sem dó. Anna se virou de bruços e se encolheu, desta forma as chicotadas vinham em direção às suas costas.
Cada vez que Anna tentava correr ele chutava-a, derrubando ela no chão.
Estava doendo demais, ela sentia o sangue esquentar sua camiseta. Ela sabia que não era como das outras vezes. Que agora havia machucado bastante. Que as marcas eram bem profundas.
Ela já não sentia mais tanta dor. Seu corpo estava dormente por causa daqueles golpes.
Quando pensou que iria desmaiar ele solta um grito e cambaleia para trás levando a mão ao peito, lado do coração.
Anna mais que depressa correu para a porta tentando fugir. Mesmo com suas pernas fracas e doloridas por causa dos chutes, ela tentava puxar o ar em seus pulmões, mas era difícil com a dor, mas ainda assim ela conseguiu sair e ir embora.
Ela não sabia o que houve com ele, não olhou para trás, só queria tentar escapar. E agora ela estava perdida, não tinha pra onde ir. Suas costas estavam começando a doer, agora ela conseguia sentir uma dor profunda, sabia que aquilo só iria piorar.
Ela não tem para onde ir. Não podia ir a um hospital, ou quando voltar ele a mataria! Ele já machucou tanto ela que o medo era crescente, ela só não queria mais apanhar.
Sua única salvação era o Herik! Ela segue para a casa dele, tentando correr, mas seu corpo todo dói, e o sangue gelado nas suas costas faz doer ainda mais e ela treme, não sabia ao certo se era de frio ou de dor.
Com muita dificuldade ela chega a casa do Herik, mas está tudo escuro. Ela sabe onde é o quanto dele, já esteve algumas vezes ali na casa dele.
Ela bate na janela do quarto dele bem devagar e chama seu nome. Ele rapidamente abre a janela.
- Por favor! Me ajude. - Pede ela e cai no chão sem forças, a dor está quase insuportável.
Anna nem consegue chorar mais! Aprendeu que as lágrimas não lhe confortam, ao contrário, fazem doer ainda mais. E as pessoas que dizem que chorar é bom, lava a alma. Queria ela, que fosse mesmo verdade!
Herik pula a janela assustado por ela estar ali aquela hora da noite e vai ao seu encontro.
- O que aconteceu, Anna? Por que você está aqui? E precisa da minha ajuda? - Perguntou ele confuso ao mesmo tempo preocupado.
Ele se ajoelha junto dela, e aí consegue ver o quão machucada ela está. Por sua cara de espanto deu para Anna ter uma noção de como suas costas devem estar, toda machucada.
- O que aconteceu? Por que está... Isso é sangue? Meu Deus Anna! - Herik fala apavorado.
Ele chega mais próximo e lhe abraça, seu abraço não dói mais do que a dor que ela sente em meu corpo, por isso ela não relutou.
- Foi ele! Meu padrasto. - Falou se permitindo deixar a dor sair junto com sua voz.
Anna abraça ele como se ele fosse sua tábua de salvação. Ele retribui o abraço um pouco receoso, por não saber se poderia lhe abraçar.
Então ali se permitiu chorar toda a dor que estava sentindo, tanto a que sentia no seu corpo como também a da sua alma.