- Não faço ideia, você saiu correndo e eu segui você. Gritei por você, mas não me respondeu. Saiu correndo pro outro lado de onde viemos eu apenas corri atrás de você e agora não faço ideia onde estamos com essa escuridão. - Herik fala preocupado. Anna pode ver seu semblante preocupado por conta da luz da lua.
- Desculpa.
- Não precisa se desculpar. Eu só queria entender por que você saiu correndo daquele jeito. Você não queria o beijo? - Perguntou ele confuso.
- Não foi isso! Eu só não sei o que aconteceu. Quando você me tocou eu fiquei com medo. - Confessa a ele.
- Você ficou com medo de mim? Eu jamais machucaria você, eu não sou meu irmão! - Herik fala triste por ela ter medo dele.
Sua voz soou tão triste, deixou Anna ainda mais nervosa, ela não conseguia explicar porque sentiu tanto medo dele.
- Eu não sei o porquê. Só fiquei com medo e corri, nem mesmo sabia para onde ir, e agora estamos perdidos no meio do nada.
- Por favor me conta. Qual é o seu medo? Me deixa te ajudar. - Ele pede e tenta passar a mão no ombro dela. E mais uma vez ela fugiu do seu toque.
- Eu não sei, eu só tenho medo quando você me toca. Eu não sei o que, mas eu fico com muito medo quando você se aproxima de mim! - Confessa ela, chorando.
- O que aconteceu para você ter medo assim? Você não gosta que eu te toque, tem que ter um motivo. - Diz ele tentando entendê-la.
- Não tem um motivo!
Anna falou a ele, mas ela sabia bem o motivo. Acabou de fazer uma descoberta. Descobriu que as marcas que seu padrasto deixou no seu corpo, foram bem mais profundas do que ela imaginava. Elas machucaram seu corpo, sua alma e também a sua mente.
- Eu sei que tem! Só não confia em mim para me contar. Mas eu tenho paciência e espero ter confiança em mim, para se abrir comigo. Eu gosto muito de você Anna e cuidarei de você mesmo que não possa te tocar, somos amigos antes de qualquer coisa. - Diz ele com carinho.
O que ela diria a ele? 'Olha meu padrasto me surra desde que minha mãe morreu, e quando eu não consigo dinheiro pra ele encher a cara de bebida ele começa a me bater até sangrar?' Ela jamais poderia dizer isso a ele. Imagina se ele resolve contar a alguém? Ou ir falar com seu padrasto? Aí sim estaria ferrada, pensou ela.
Ele abre um sorriso acolhedor, dá para ver mesmo na penumbra da noite escura. Apenas a lua e as estrelas iluminavam o céu em meio a mata.
- Eu não quero isso. Não quero que fique com alguém que não possa retribuir um abraço, eu jamais faria isso com você!
- Ei! Somos amigos antes de tudo. Eu nunca te pedi para você fazer isso. Eu só quero cuidar de quem eu gosto. - Diz ele atencioso.
Suas palavras quebraram o coração dela. Ela também gosta dele, mas não conseguia deixar de ter medo do seu toque. Ela se sente bem ao lado dele, mas seu toque lhe causa medo.
- Tudo bem! Podemos ser amigos.
- Sim, podemos! E quando você quiser, pode me contar o que te assombra tanto.
- Talvez um dia. - Anna fala, triste.
- Só quero que aquele olhar, que me olhou, depois do nosso beijo, nunca mais veja em seu rosto... Foi o mesmo olhar que tinha quando ajudei você com meu irmão. Aquilo me destruiu, ver você com medo de mim! Eu jamais faria qualquer coisa para te machucar. - Fala com dor em sua voz.
- Por favor! Eu sei que você nunca me machucaria, e me perdoe por aquilo. É só que... Quando você tentou me tocar eu fiquei apavorada, seu toque doeu, foi como se me queimasse. E sem entender o que estava acontecendo, porque eu estava com tanto medo, o ar me faltou parecia que eu estava sendo sufocada, e por isso eu corri. - Confessou ela em meio aos soluços do seu choro.
Ela foi sincera com ele, não queria enganar ele, mesmo não podendo contar tudo. Queria que ele soubesse, e se decidir ir embora e nunca mais falar com ela, iria entender a decisão dele.
- Meu toque faz isso a você? - Perguntou ele tristonho.
- Sim! - Confessou. - E vou entender se não quiser mais me ver.
- Somos amigos! E amigos ajudam quando os amigos precisam, e não abandonam! Isso não seria amizade de verdade. E pode ter certeza que irei ajudar você.
- Fico feliz em ouvir isso.
- Por mais que me doa saber o quanto você sofre. E não querer me contar o motivo do seu medo. Eu sei que é algo que te machucou muito ou ainda te machuca, ou você não teria aquele horror em seus olhos. Mas eu sei esperar e serei paciente com você, com nós dois. - Herik fala compreensivo.
Ele estende a mão em sua direção, mas não toca nela, fica apenas com a mão estendida.
Anna compreendeu seu gesto, esticou sua mão, segurando a dele com carinho.
- Obrigado por não desistir de mim!
- Nunca! Só peço que você não desista de você, muito menos de nós!
E Anna tentaria! Ficaram conversando mais um tempo até o dia começar a clarear.
Não estavam tão perdidos assim, só que com a escuridão não dava para ver muita coisa. Eles saíram do meio da mata e o Herik quis levar a Anna para a casa, mas ela deu uma desculpa que se seu padrasto lhe visse com um garoto ele ia deixá-la de castigo, ainda mais chegando quase de manhã em casa.
Indo para a casa ela tinha uma certeza, que pelo Herik ela devia lutar. Só que não temos controle de nossas vidas, e o destino muitas vezes pode ser cruel ainda mais...
Anny chegou em casa, seu padrasto não estava, e isso deixou-a mais tranquila. Ele não perceberia que ela não passou a noite em casa.
Ela vai pro quarto, deitando na sua cama, mas o sono não vinha. O que aconteceu, não saia da sua cabeça. O medo, a angústia, a falta de ar, ela não compreendia direito o que aconteceu. Mas ela tinha uma noção! Os ferimentos do seu corpo ela terá que carregar para sempre e com isso vem as consequências. E uma delas é o medo do toque. Que alguém encoste nela. As constantes surras tem prejudicado sua vida bem mais do que ela pensava.
Mas ela lutará, não vai ser nada fácil, mas ela tentará vencer esse medo. E mostrará a todos que vai poder dar a volta por cima, deixará seu passado para trás.