O Preço de um Rim: Quando o Amor Se Torna Negócio
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Capítulo 2

A minha sogra, Sofia, voltou a entrar no quarto. O seu rosto estava duro como pedra.

Ela não disse nada. Apenas se sentou e continuou a descascar a maçã, o som da faca a raspar na casca era o único barulho no quarto.

Eu sabia que ela tinha ouvido tudo. E o silêncio dela era a sua resposta.

"Sofia," comecei, a minha voz a tremer um pouco. "Eu ouvi."

Ela parou. A faca ficou imóvel na sua mão. Ela olhou para mim, os seus olhos frios. "Então ouviste. E?"

"Eu vou divorciar-me do Pedro."

Ela largou a maçã e a faca na mesinha de cabeceira com um baque. "Divorciar-te? Depois de tudo o que fizemos por ti? Demos-te uma casa, uma vida. E é assim que nos agradeces?"

"Agradecer? Eu dei-lhe o meu rim. Salvei-lhe a vida."

"Foi a tua obrigação como esposa! Nós acolhemos-te quando não tinhas nada. O teu pai era um bêbado que te deixou com dívidas. A tua mãe morreu e não te deixou um tostão. Devias estar de joelhos a agradecer-nos todos os dias!"

Cada palavra era uma bofetada. Ela estava a usar o meu passado, a minha dor, contra mim.

"Isso não lhe dá o direito de me tratar assim," disse eu, a minha voz a ganhar força. "Ele não estava aqui. Ele escolheu a Joana em vez de mim."

"A Joana é frágil! Ela precisa de apoio. Tu és forte. Ou pelo menos, pensei que fosses."

Ela levantou-se, a sua sombra a cobrir-me. "Se te divorciares do Pedro, vais sair desta família sem nada. Vais voltar para o buraco de onde vieste. Pensa bem, Lara. Pensa no teu futuro."

Ela saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.

Fiquei a olhar para a porta fechada, o coração a bater descontroladamente. O cheiro a antissético do hospital parecia mais forte, sufocante.

Ela tinha razão sobre uma coisa. Eu não tinha nada. A minha família era o Pedro. O meu mundo era ele.

Mas que mundo era esse? Um mundo onde o meu valor era medido pela minha utilidade? Onde o meu sacrifício era visto como uma obrigação?

Peguei no meu telemóvel. Abri a aplicação do banco. A minha conta estava quase a zeros. O Pedro controlava todo o dinheiro. Eu recebia uma "mesada", como uma criança.

Fui à galeria de fotos. Havia fotos nossas, a sorrir. Férias em Itália, jantares em restaurantes caros. Tudo parecia uma mentira. Em cada foto, eu via agora uma mulher que estava a tentar convencer-se de que era feliz.

Apaguei-as todas. Uma por uma.

Depois, liguei ao meu único amigo, o Tiago. Ele era advogado.

"Tiago? Sou eu, a Lara."

"Lara! Como estás? Correu tudo bem com a cirurgia?"

"Correu, Tiago. Mas preciso de ti. Quero o divórcio."

Houve uma pausa do outro lado da linha. "Lara, tens a certeza? O que aconteceu?"

Contei-lhe tudo. A chamada do Pedro, a conversa com a Sofia. A minha voz não tremeu. Estava calma, fria.

"Lara... isso é horrível. Eu trato de tudo. Não te preocupes. Vou preparar os papéis."

"Obrigado, Tiago. Há mais uma coisa. Preciso de um lugar para ficar."

"A minha casa é tua. Sabes disso."

Desliguei o telemóvel e senti um peso a sair dos meus ombros. Pela primeira vez em anos, eu estava a tomar as minhas próprias decisões. Estava a lutar por mim.

A porta do quarto abriu-se. Era a Joana.

            
            

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