No dia seguinte, contactei uma advogada, a Dr.ª Almeida.
Ela era conhecida por ser implacável, mas justa. Era exatamente o que eu precisava.
Expliquei-lhe a situação. A ausência constante do Pedro, a sua devoção à irmã em detrimento da nossa família, a sua recusa em reconhecer o problema.
"Precisamos de provas, Mariana", disse ela, a sua voz calma e profissional. "Registos de chamadas, mensagens, testemunhas. Qualquer coisa que mostre um padrão de negligência."
Comecei a reunir tudo.
Revirei os extratos telefónicos. Dezenas de chamadas por dia entre o Pedro e a Sofia. Longas conversas à noite, quando ele devia estar a falar comigo ou a ajudar com o Lucas.
Encontrei mensagens. "Sofia precisa de mim, não posso ir jantar." "Tive de levar a Sofia ao médico, esqueci-me da reunião de pais." "A Sofia está triste, vou passar a noite em casa da minha mãe."
Desculpas. Sempre desculpas. E a Sofia era sempre a razão.
O Pedro tentou agir como se nada tivesse acontecido.
Ele aparecia para o jantar, tentava brincar com o Lucas, mas havia uma distância entre nós que era impossível de ignorar.
Ele não mencionou o divórcio. Provavelmente pensou que eu estava apenas a fazer uma birra, que iria esquecer o assunto.
Uma semana depois, a Helena apareceu em minha casa sem avisar.
Ela entrou como se fosse a dona do lugar.
"Mariana, precisamos de conversar", anunciou ela.
"Eu não tenho nada para lhe dizer."
"Mas eu tenho", insistiu ela, sentando-se no meu sofá. "O Pedro disse-me que tu ainda estás zangada. Eu vim para te fazer ver a razão."
Senti uma onda de cansaço.
"Não há razão para ver. A minha decisão está tomada."
"Tu és uma tola", disse ela, a sua voz a subir. "Estás a destruir a tua família por um capricho. O Pedro é um bom homem!"
"Um bom homem não abandona o filho no seu aniversário."
"Ele não o abandonou! Ele tinha uma emergência familiar!", gritou ela.
A porta abriu-se e o Pedro entrou. Ele deve tê-la trazido.
Ele olhou para a mãe, depois para mim.
"Mãe, talvez não seja uma boa altura."
"Não, é a altura perfeita!", disse a Helena, levantando-se. "Esta mulher precisa de ouvir umas verdades. Ela não te valoriza, Pedro! Ela não valoriza a família!"
"A família?", ri-me, sem conseguir evitar. "Qual família? Aquela em que eu e o meu filho somos sempre a última prioridade?"
"A Sofia é sangue do meu sangue!", disse o Pedro, a sua voz a ecoar a da mãe. "Tu nunca vais entender isso."
"Não, eu não entendo", concordei. "Eu pensava que quando nos casámos, nós os dois e o Lucas nos tornámos a nossa própria família. A principal. Aparentemente, eu estava enganada."
"Tu és impossível!", disse o Pedro, virando-se para sair. "Não se pode falar contigo."
"Sim, Pedro, vai-te embora", disse eu. "É o que fazes melhor."
Ele parou à porta, olhou para mim com uma mistura de raiva e dor, e depois saiu, batendo a porta atrás de si.
A Helena olhou para mim com puro ódio.
"Tu vais arrepender-te disto, Mariana. Vais acabar sozinha e miserável."
"Eu já estou sozinha, Helena. A única diferença é que em breve serei livre."
Ela bufou de raiva e saiu, seguindo o filho.
Fiquei sozinha no silêncio da minha casa. E, pela primeira vez em muito tempo, senti paz.