Apenas a Esposa: O Preço da Liberdade
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Capítulo 2

Houve um silêncio chocado do outro lado da linha.

Depois, a voz da D. Helena voltou, ainda mais aguda.

"Como te atreves a falar assim comigo? Lúcia, tu esqueceste-te de quem és? Esqueceste-te de tudo o que a nossa família fez por ti e pela tua? O negócio do teu pai estava na lama. Fomos nós que o salvámos! E é assim que nos agradeces?"

"Agradeço a vossa ajuda," respondi calmamente. "Mas o meu casamento não era parte do acordo financeiro. E acabou."

"Acabou? Tu não decides quando acaba! O Pedro é o meu filho! Ele cometeu um erro, está bem. Ele devia ter ido ter contigo. Mas pedir o divórcio por causa disso? É ridículo! És uma ingrata!"

"Um erro?", repeti, incrédula. "A minha irmã quase morreu. Ele nem sequer atendeu o telefone. Isso não é um erro, é uma escolha. Ele escolheu a irmã dele em vez da esposa dele. Sempre."

"A Sofia é a família dele! Sangue do seu sangue! Tu és apenas a esposa!"

As palavras dela pairaram no ar. "Apenas a esposa."

Era isso que eu era para eles. Um acessório. Um contrato.

"Exatamente," disse eu. "E esta esposa já teve o suficiente. Vou enviar os papéis do divórcio ao Pedro amanhã."

Desliguei o telefone antes que ela pudesse gritar mais.

A minha mãe olhava para mim, com uma mistura de orgulho e terror nos olhos.

"Filha, tens a certeza? Eles são... perigosos. Eles podem arruinar-nos."

"Mãe, eles já nos arruinaram. O que mais nos podem tirar? O nosso orgulho? Eu já não tenho nenhum. Só quero a minha vida de volta. Só nos quero a nós de volta."

Ela abraçou-me com força. As lágrimas dela molharam o meu ombro.

"Estou contigo, filha. Sempre."

Na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz foi ligar ao meu advogado. Expliquei-lhe a situação. Ele disse que seria um divórcio complicado, por causa dos interesses comerciais.

"Eles vão lutar com unhas e dentes, Lúcia. Especialmente por causa da empresa."

"Eu sei," disse eu. "Mas eu não quero o dinheiro deles. Não quero a empresa. Só quero a minha liberdade."

Quando saí do escritório do advogado, senti-me mais leve. Mas também sabia que a guerra estava apenas a começar.

O meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido. Atendi.

"Lúcia, sou eu, a Sofia."

A voz dela era chorosa e fraca.

"O que queres, Sofia?"

"Por favor, não te divorcies do Pedro. Ele ama-te. Ele estava apenas preocupado comigo. Eu caí, sabes? Doeu tanto."

"Eu sei. E a minha irmã foi atropelada por um carro."

Houve uma pausa.

"Isso é diferente," disse ela. "Tu és forte. A tua família é forte. Eu... eu sou frágil. Preciso do meu irmão. Por favor, Lúcia. Pensa na nossa família."

"Eu estou a pensar na minha família, Sofia. E é por isso que estou a fazer isto."

Desliguei.

Eles não entendiam. Eles nunca iriam entender. Para eles, o mundo girava em torno deles, das suas necessidades, dos seus pequenos dramas. A dor dos outros era apenas um inconveniente.

Voltei para o hospital. A Beatriz estava acordada.

Ela sorriu quando me viu. Um sorriso fraco, mas era um sorriso.

"Mana," disse ela, a voz rouca. "Onde está o Pedro?"

O meu coração apertou.

"Ele... ele teve de resolver umas coisas, Bia."

Eu não conseguia dizer-lhe a verdade. Não ainda. Ela precisava de recuperar.

Sentei-me ao lado dela e segurei a sua mão. A mesma mão que eu segurava quando éramos crianças e tínhamos medo do escuro.

"Eu estou aqui, Bia. Não vou a lado nenhum."

Ela adormeceu pouco depois. Fiquei a observá-la, a respiração dela calma e regular.

O meu telemóvel vibrou. Era uma mensagem do Pedro.

"Precisamos de falar. Encontra-me no nosso café. Agora."

Não era um pedido. Era uma ordem.

Por um momento, hesitei. Mas depois olhei para a minha irmã. Lembrei-me das palavras da D. Helena. "Apenas a esposa."

Eu não era "apenas" nada.

Respondi à mensagem dele.

"Não."

            
            

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