"Se não vieres ter comigo em uma hora, eu vou ao hospital. E não vou ser simpático, Lúcia. Vou contar à Beatriz exatamente porque é que a sua irmã mais velha está a destruir a família."
O meu sangue gelou.
Ele estava a ameaçar-me. Usar a minha irmã doente contra mim.
O homem com quem eu me casei era um monstro.
Levantei-me. A minha mãe olhou para mim, preocupada.
"O que se passa?"
"Tenho de sair. O Pedro quer falar comigo. Mãe, por favor, não saias de perto da Bia."
"Lúcia, não vás. É uma armadilha."
"Eu sei. Mas não posso deixá-lo vir aqui. Não posso deixá-lo perturbar a Bia."
Beijei a testa da minha irmã adormecida e saí.
O café estava quase vazio. O Pedro estava sentado a uma mesa no canto, a cara fechada. Ele não se levantou quando me aproximei.
"Finalmente," disse ele, com desdém. "Pensei que ia ter de ir buscar-te."
Sentei-me à frente dele. Não disse nada.
"Então, o que é esta estupidez do divórcio?", perguntou ele, indo direto ao assunto. "Estás a fazer isto para me castigar? Para chamar a atenção?"
"Estou a fazer isto porque o nosso casamento acabou, Pedro."
Ele riu. Uma risada sem humor.
"O nosso casamento acaba quando eu disser que acaba. Tu esqueceste-te do contrato? Esqueceste-te do acordo pré-nupcial?"
"Eu não quero o teu dinheiro. Podes ficar com tudo."
Ele olhou para mim, surpreendido. Claramente, não era isso que ele esperava.
"Não queres o dinheiro? Então o que é que queres?"
"Eu quero a minha vida de volta. Quero paz. Quero estar longe de ti e da tua família."
Ele inclinou-se sobre a mesa. A sua voz era baixa e ameaçadora.
"Tu não vais a lado nenhum. Tu pertences-me, Lúcia. A tua família deve-nos tudo. Se te divorciares de mim, eu vou destruir o que resta do negócio do teu pai. Vou garantir que a tua mãe e a tua irmã acabem na rua. Entendeste?"
Olhei para ele. O homem que eu um dia pensei que poderia amar. Agora, só sentia nojo.
"Podes tentar," disse eu, a minha voz a tremer ligeiramente, mas firme. "Mas não vou voltar atrás."
Levantei-me para sair. Ele agarrou o meu pulso com força.
"Tu não vais a lado nenhum."
"Larga-me, Pedro."
"Vais voltar para casa comigo. Vais pedir desculpa à minha mãe e à minha irmã. E vais esquecer esta ideia de divórcio."
Tentei puxar o meu braço, mas o aperto dele era de ferro.
"Eu disse para me largares!"
De repente, uma voz atrás de nós disse: "Ela disse para a largares."
Virei-me. Era um homem que eu não conhecia. Alto, com cabelo escuro e olhos sérios. Ele estava a olhar diretamente para o Pedro.
O Pedro largou o meu pulso abruptamente.
"Quem és tu?", rosnou ele. "Não te metas onde não és chamado."
"Eu sou o advogado dela," disse o homem calmamente. "O meu nome é Rafael. E a partir de agora, qualquer comunicação que tenhas com a minha cliente será através de mim."