O Pedro olhou de mim para o Rafael, com o rosto contorcido de raiva e surpresa.
"Advogado? Já contrataste um advogado? Que rápido, Lúcia."
"Foi necessário," disse eu, esfregando o meu pulso.
Rafael deu um passo em frente, colocando-se ligeiramente entre mim e o Pedro.
"Sr. Almeida," disse Rafael, a sua voz calma mas firme, "a minha cliente já expressou a sua vontade. Qualquer tentativa de a contactar, intimidar ou ameaçar a partir de agora terá consequências legais. Isso inclui ameaças à sua família ou aos seus interesses."
O Pedro soltou uma risada sarcástica. "Achas que tenho medo de ti? Sabes quem eu sou?"
"Sei exatamente quem o senhor é," respondeu Rafael, sem vacilar. "E é por isso que estou a avisá-lo. A lei aplica-se a todos."
O Pedro olhou para mim uma última vez, os olhos cheios de ódio.
"Vais arrepender-te disto, Lúcia. Vais pagar muito caro."
Ele virou-se e saiu do café, batendo a porta atrás de si.
Eu deixei escapar um suspiro que nem sabia que estava a prender. As minhas pernas pareciam gelatina.
"Obrigada," disse eu ao Rafael. "Como é que... como é que sabias que eu estava aqui?"
"O seu marido não é propriamente discreto. Quando ele a ameaçou pelo telefone, o meu instinto disse-me que ele não ia desistir facilmente. Decidi vir ao hospital, e a sua mãe disse-me que tinha vindo encontrar-se com ele. Eu apenas segui o meu palpite."
Ele apontou para a cadeira. "Sente-se, por favor. Parece que precisa de um minuto."
Sentei-me. Ele pediu dois copos de água.
"Ele ameaçou a sua família?", perguntou Rafael, depois de o empregado se afastar.
Eu assenti. "Ele disse que ia destruir o negócio do meu pai e deixar a minha mãe e a minha irmã na rua."
Rafael franziu a testa. "Isso é coação. É grave. Precisamos de documentar tudo isto."
"Ele pode mesmo fazer isso?", perguntei, a voz fraca.
"Ele pode tentar," admitiu Rafael. "A família dele é poderosa. Mas isso não significa que ele possa fazer o que quer. Temos de ser mais espertos. Temos de estar um passo à frente."
Ele olhou para mim com seriedade. "Lúcia, isto vai ser uma batalha difícil. Ele vai usar todas as armas que tiver. Preciso que sejas forte."
"Eu serei," disse eu, a minha determinação a regressar. "Não tenho outra escolha."
Passámos a hora seguinte a discutir a estratégia. Rafael era metódico e inteligente. Ele explicou os aspetos legais de uma forma que eu conseguia entender. Falámos sobre o acordo pré-nupcial, os bens, a empresa.
"A tua maior vantagem," disse ele, "é que não queres o dinheiro dele. Isso tira-lhe a sua principal arma. Ele está habituado a que toda a gente tenha um preço. O facto de tu não teres um, deixa-o desorientado."
Quando saí do café, sentia-me mais preparada. O medo ainda lá estava, mas agora estava misturado com uma sensação de poder. Eu não estava sozinha nisto.
Quando voltei ao hospital, a minha mãe estava a andar de um lado para o outro no corredor.
"Lúcia! Estava tão preocupada! Ele magoou-te?"
"Não, mãe. Estou bem. E encontrei ajuda."
Contei-lhe sobre o Rafael. O alívio no rosto dela era visível.
Nos dias seguintes, o mundo pareceu entrar numa calma tensa. O Pedro não me contactou mais diretamente. Em vez disso, recebi uma carta oficial do advogado dele.
Era uma resposta ao nosso pedido de divórcio. Eles recusavam-se a aceitar os termos. Alegavam "abandono de lar" da minha parte e exigiam que eu voltasse para casa imediatamente. Era uma tática de intimidação, exatamente como o Rafael tinha previsto.
Enviei a carta ao Rafael. A resposta dele foi simples: "Deixa comigo."
Enquanto isso, a Beatriz estava a melhorar a olhos vistos. Ela já conseguia sentar-se na cama e estava a começar a fisioterapia. A sua energia estava a voltar.
Um dia, enquanto lhe penteava o cabelo, ela perguntou de repente:
"Mana, porque é que o Pedro não me veio visitar? Nem uma vez."
O meu coração parou. Eu sabia que este momento ia chegar.
Respirei fundo.
"Bia, o Pedro e eu... estamos a separar-nos."