O Preço de Uma Mentira Patética
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Capítulo 2

O funeral da Sofia foi num dia de sol radiante.

O céu estava de um azul tão limpo que parecia falso.

Eu estava vestido de preto, de pé em frente à sua campa, sentindo-me como uma concha vazia.

A minha mãe, a Laura, estava ao meu lado, a dar-me palmadinhas no ombro.

"Lucas, não fiques assim. As pessoas não podem voltar dos mortos. Ainda tens um filho para criar."

O Tiago e a Clara também estavam lá.

A Clara tinha os olhos vermelhos, parecia genuinamente triste.

Ela aproximou-se e disse em voz baixa: "Lucas, desculpa. Se soubéssemos que isto ia acontecer, nunca teríamos chamado por ti."

O Tiago acrescentou: "Sim, mano. A culpa é minha. Podes bater-me, podes ralhar comigo, o que quiseres."

Eu olhei para eles.

A culpa era deles?

A culpa era minha.

Fui eu que fiz a escolha. Eu escolhi deixá-la.

A Helena, minha sogra, estava do outro lado, o seu olhar era frio como gelo.

Ela não disse uma palavra para mim ou para a minha família durante todo o funeral.

Quando a cerimónia acabou, ela caminhou até mim.

"Lucas, eu quero a guarda do meu neto."

Fiquei chocado. "O quê? Ele é meu filho."

"Teu filho?" ela riu-se, um som amargo. "Quando a Sofia mais precisava de ti, onde estavas? Tu não és digno de ser pai dele. Eu não vou deixar o meu neto ser criado por um homem irresponsável como tu."

A minha mãe interveio imediatamente. "Helena, como podes dizer isso? O Lucas é o pai da criança! O nome dele é Mateus, Mateus Almeida. Ele pertence à família Almeida."

"Família Almeida?" A Helena olhou para a minha mãe, para o Tiago, e para a Clara. "A vossa família matou a minha filha."

A cara da minha mãe ficou pálida. "Não digas disparates!"

"Eu não estou a dizer disparates." A Helena apontou para o Tiago. "Foi ele que te ligou, não foi? E tu, Lucas, abandonaste a tua mulher em trabalho de parto para ires socorrê-los. Diz-me, que emergência era assim tão grande?"

O Tiago baixou a cabeça, sem dizer nada.

A Clara falou, a sua voz a tremer. "O nosso carro avariou... eu estava a sentir-me mal."

"A sentir-se mal?" A Helena olhou-a de cima a baixo. "Pareces bem agora. A minha filha está morta, mas tu estás aqui, perfeitamente bem. A tua indisposição era mais importante que a vida da minha filha?"

As suas palavras eram cruéis, mas eu não conseguia refutá-las.

"Isto não tem nada a ver contigo," eu disse à Helena, a minha voz rouca. "O Mateus fica comigo."

"Veremos," disse ela, virando-se para ir embora. "Vou levar isto a tribunal. Eu vou provar que tipo de pai tu és."

Eu vi-a afastar-se, e um sentimento de pânico apoderou-se de mim.

Ela estava a falar a sério.

Ela queria tirar-me o meu filho. A única coisa que me restava da Sofia.

            
            

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