No dia seguinte, fui a casa da minha mãe.
O Tiago e a Clara estavam lá. Parecia que a minha mãe os tinha convocado para uma reunião de estratégia.
Eles ficaram surpreendidos por me ver.
"Lucas! Que bom que vieste," disse a minha mãe, forçando um sorriso. "Estávamos mesmo a falar sobre como te vamos ajudar."
Eu não me sentei. Fiquei de pé no meio da sala.
"Eu ouvi-vos ontem à noite," eu disse, a minha voz era plana.
O sorriso da minha mãe vacilou.
O Tiago e a Clara trocaram um olhar de pânico.
"Ouviste o quê, querido?" perguntou a minha mãe.
"A emergência," eu disse. "A dor de cabeça da Clara."
Silêncio. Um silêncio pesado e culpado encheu a sala.
A Clara começou a chorar. "Lucas, desculpa... eu não queria..."
"Não querias o quê?" Eu olhei para ela. "Não querias que eu soubesse que deixei a minha mulher morrer por nada?"
O Tiago deu um passo à frente. "Mano, não foi assim. Eu fiquei preocupado. Eu entrei em pânico."
"Tu entraste em pânico?" Eu ri, um som oco e sem alegria. "A Sofia estava em trabalho de parto, a gritar de dor, e tu achas que entraste em pânico?"
Eu virei-me para a minha mãe.
"E tu? Tu sabias disto?"
Ela não conseguiu olhar para mim. "Lucas, o Tiago é teu irmão. Ele precisava de ti."
"A Sofia era a minha mulher! Ela estava a carregar o meu filho!" A minha voz finalmente quebrou, a raiva e a dor a transbordarem. "Vocês todos sabiam! Vocês deixaram-me acreditar que era uma emergência real!"
"Nós só queríamos proteger-te!" gritou a minha mãe. "Proteger a família!"
"Proteger a família?" Eu abanei a cabeça, incrédulo. "Vocês destruíram a minha família. A Sofia está morta por vossa causa. Por causa do vosso egoísmo."
Eu olhei para cada um deles, um por um. A minha mãe, com o seu amor cego pelo seu filho mais novo. O meu irmão, fraco e egoísta. A minha cunhada, cúmplice no seu silêncio.
"Eu não quero a vossa ajuda," eu disse, a minha voz agora calma e fria. "Eu não quero ter nada a ver convosco."
"Lucas, não digas isso," suplicou a minha mãe, as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.
"Acabou," eu disse. "A partir de hoje, eu não tenho família."
Virei-me e saí.
Bati a porta com força atrás de mim, deixando para trás os destroços da família que eu pensava ter.
Eu estava sozinho agora.
Completamente sozinho.
E eu ia lutar pela custódia do meu filho sozinho.
E eu ia dizer a verdade. Toda a verdade.