Quando o Amor Virou Indiferença: O Renascer de Clara
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Capítulo 3

A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal é um lugar de bips constantes e luzes suaves. Um lugar de esperança e medo, lado a lado.

O meu filho, o meu Tiago, estava numa incubadora. Era tão pequeno. Pequeno e perfeito. Tinha os dedos compridos do Miguel e o meu nariz.

Toquei no vidro da incubadora. A minha mão tremia.

"Olá, meu amor", sussurrei. "A mãe está aqui."

Uma enfermeira sorriu para mim. "Ele é um lutador."

Sim, ele era. Tinha de ser. Por nós os dois.

Miguel apareceu duas horas depois. Vinha com um ar cansado e um copo de café na mão.

"Então, como é que ele está?", perguntou, olhando para a incubadora com uma distância clínica.

"Ele está a lutar, Miguel."

"Pois. Isto vai ser caro", disse ele, a olhar para o monitor de sinais vitais. "Ainda bem que temos um bom seguro."

Ele ficou ali, a mexer no telemóvel. A responder a mensagens.

"A Sofia está a perguntar por ele", disse, sem levantar os olhos. "Ela quer ser a madrinha. Acho uma boa ideia, ela adora crianças."

Senti uma raiva fria a subir-me pela garganta.

"Não."

Ele olhou para mim, surpreendido. "Não, o quê?"

"Ela não vai ser a madrinha do meu filho."

"Nosso filho, Clara. E porquê? Ela está a sofrer tanto com isto tudo."

"A sofrer?", a minha voz subiu de tom, e a enfermeira olhou na nossa direção. "Quem está a sofrer é o nosso filho, que está aqui dentro. Quem devia estar a sofrer és tu, que não estavas aqui quando ele nasceu. Eu não quero essa mulher perto do meu filho."

Miguel fechou a cara.

"Estás a ser irracional. Estás a culpar a pessoa errada. A Sofia não tem culpa de nada. Ela tem problemas de ansiedade, precisa de apoio."

"E eu? Eu não preciso de apoio? O teu filho não precisa de ti?"

"Eu estou aqui, não estou?", disse ele, abrindo os braços. "O que mais queres que eu faça? Eu não sou médico de bebés, Clara. Estar aqui a olhar para ele não o vai fazer melhorar mais depressa. Tenho coisas para tratar. O mundo não para porque tu decidiste ter um parto prematuro."

A crueldade das palavras dele atingiu-me em cheio.

Ele não via. Ele simplesmente não via. Ou não queria ver.

Peguei na minha mala.

"Onde vais?"

"Para longe de ti", disse eu, e saí dali antes que ele pudesse ver as lágrimas que, desta vez, eu não consegui segurar.

            
            

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