A Máscara Caiu: A Verdade da Família Patterson
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, a casa estava fria.

O bolo do foguetão azul continuava na mesa, uma lembrança cruel.

Pedro não tinha voltado para casa.

Não me surpreendeu.

Juntei as minhas coisas numa mala pequena. Roupas, alguns documentos, a única fotografia que tinha do Tiago no meu porta-moedas.

Não havia muito para levar. A minha vida nos últimos quatro anos cabia numa única mala.

Quando estava a sair, o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido.

Atendi.

"Dona Helena? Sou o Inspetor Silva, da polícia."

A sua voz era calma e profissional.

"Sim?"

"Lamento a sua perda. Estamos a investigar as circunstâncias da morte do seu filho. Precisávamos de lhe fazer algumas perguntas."

"Claro. Onde?"

"Pode vir à esquadra? Ou prefere que vamos até si?"

"Eu vou aí. É melhor."

Não queria a polícia nesta casa. Não com o bolo na mesa e o cheiro a desinfetante do hospital ainda no ar.

Desliguei e saí, fechando a porta atrás de mim.

Na esquadra, o Inspetor Silva levou-me para uma sala pequena e sem janelas. Havia uma mesa e duas cadeiras.

Ele era um homem de meia-idade, com um olhar cansado, mas atento.

"Dona Helena, pode contar-me o que aconteceu ontem?"

Respirei fundo e contei tudo. A febre, as chamadas não atendidas, a ida para o hospital, a notícia.

A minha voz era monótona, sem emoção. Eu estava a relatar factos.

"Vinte e sete chamadas, disse a senhora?"

"Sim. Rejeitadas. Todas elas."

Ele anotou algo no seu caderno.

"E o seu marido, o senhor Pedro, disse que estava com a sobrinha?"

"Sim. Sofia. Ela estava a ter uma crise de pânico."

"E onde estavam eles?"

"No hospital. Pelo menos foi o que ele disse."

O inspetor olhou para mim.

"Verificámos os registos do Hospital da Luz, onde a sobrinha do seu marido deu entrada. A hora de entrada foi às sete da noite. A senhora começou a ligar ao seu marido por volta das seis e meia, correto?"

Assenti com a cabeça.

"O hospital fica a dez minutos da sua casa, sem trânsito."

Ele fez uma pausa, deixando a informação assentar.

"O seu marido demorou quase trinta minutos para chegar lá com a sobrinha. E durante esse tempo, não atendeu as suas chamadas."

"Ele estava a conduzir," disse eu, a desculpa a soar oca até para mim.

"Mesmo assim. A maioria dos carros tem sistema de mãos-livres. E vinte e sete chamadas... é um número elevado para ser ignorado, mesmo a conduzir."

Ele olhou novamente para as suas notas.

"O seu filho foi diagnosticado com meningite bacteriana. O médico disse que cada minuto contava. Se ele tivesse chegado ao hospital trinta minutos mais cedo..."

Ele não precisou de terminar a frase.

O ar saiu dos meus pulmões.

Trinta minutos. O tempo que o Pedro demorou a atender a emergência de outra pessoa. O tempo que roubou ao nosso filho.

"Obrigado, Dona Helena. Por agora é tudo. Entraremos em contacto se precisarmos de mais alguma coisa."

Levantei-me, as minhas pernas tremiam.

Quando saí da esquadra, o sol brilhava. O mundo continuava a girar, indiferente.

Peguei num táxi. Não tinha para onde ir.

"Para onde, senhora?" perguntou o motorista.

Dei-lhe o único endereço que me veio à cabeça. A casa da minha amiga Ana. A única pessoa que me restava.

            
            

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