A Máscara Caiu: A Verdade da Família Patterson
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Capítulo 3

A Ana abriu a porta e o seu sorriso desapareceu quando me viu.

"Helena? O que aconteceu?"

Não precisei de dizer nada. Ela olhou para a minha mala, para o meu rosto, e puxou-me para dentro num abraço forte.

Foi a primeira vez que chorei.

Chorei pelo Tiago, chorei por mim, chorei pela vida que tinha perdido.

A Ana deixou-me chorar. Fez-me um chá e sentou-se comigo no sofá, em silêncio.

Quando finalmente parei, contei-lhe tudo. O Pedro, a Sofia, a sogra, a polícia.

"Aquele homem é um canalha," disse ela, a sua voz cheia de raiva. "E a família dele é ainda pior."

Ela levantou-se e começou a andar de um lado para o outro na sua pequena sala.

"Uma crise de pânico? A Sofia tem essas 'crises' sempre que quer alguma coisa! Lembro-me quando ela queria aquele telemóvel caro e fingiu um desmaio. A família dela mima-a até ao ridículo."

Eu sabia disso. Tinha visto acontecer vezes sem conta. Mas nunca pensei que chegasse a este ponto.

"A polícia disse que trinta minutos poderiam ter feito a diferença, Ana."

A Ana parou e olhou para mim, os seus olhos a arder.

"Então não é só negligência. É homicídio por negligência."

A palavra pairou no ar entre nós. Homicídio.

"O que vais fazer?" perguntou ela.

"Divórcio. É a única coisa que sei."

"Isso não é suficiente, Helena. Ele tem de pagar pelo que fez. Eles todos têm."

O meu telemóvel vibrou. Era o Pedro. Ignorei.

Vibrou outra vez. E outra. E outra.

Finalmente, atendi.

"Helena, onde estás? Fui a casa e não estavas lá. A tua mala desapareceu."

A sua voz estava cheia de pânico.

"Fui embora, Pedro."

"Foste embora? Para onde? Volta para casa, por favor. Precisamos de organizar o funeral do Tiago."

O funeral. Tinha-me esquecido completamente. A ideia de estar no mesmo espaço que ele e a família dele era insuportável.

"Eu trato disso," disse eu, a minha voz fria. "Não preciso da tua ajuda."

"Não sejas assim, Helena! Ele era meu filho também! Eu tenho direitos!"

"Direitos? Tu perdeste os teus direitos ontem, quando escolheste não atender o telemóvel."

Houve um silêncio do outro lado. Depois, a voz da irmã dele, Clara, soou ao fundo.

"Ela está a ser ridícula, Pedro! Diz-lhe para parar com o drama e voltar para casa!"

"Cala-te, Clara!" gritou o Pedro. Depois, para mim: "Helena, por favor. Eu cometi um erro. Eu sei. Mas estou a sofrer tanto como tu."

"Não, não estás," respondi. "Se estivesses, não terias ido passar a noite a consolar a tua sobrinha. Terias ficado em casa, no quarto vazio do teu filho."

Desliguei.

A Ana estava a olhar para mim, a sua expressão dura.

"Precisas de um advogado. Um bom."

Ela pegou no seu computador portátil e começou a pesquisar.

"Vou encontrar o maior filho da mãe desta cidade. Ele vai arrancar-lhes até a pele."

Enquanto ela pesquisava, eu olhava para a janela. A vida lá fora continuava. As pessoas riam, caminhavam, viviam.

O meu mundo tinha parado, mas o resto do mundo não.

E pela primeira vez, senti uma faísca de raiva. Uma raiva fria e dura.

A Ana tinha razão. O divórcio não era suficiente.

Eles tinham de pagar.

            
            

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