Fui para o único lugar que podia: o pequeno apartamento da minha irmã, Clara.
Ela abriu a porta com os olhos cheios de preocupação. Não precisei de dizer nada. Ela olhou para a minha mala, para a minha cara, e simplesmente me abraçou.
"Entra," disse ela, a sua voz suave.
O apartamento dela era pequeno, mas acolhedor. Cheirava a café e a livros. Era um refúgio.
Sentei-me no sofá dela enquanto ela me fazia um chá.
"Eu disse-lhe que queria o divórcio," disse eu, a olhar para as minhas mãos.
Clara sentou-se ao meu lado, a entregar-me a chávena quente. "E como é que ele reagiu?"
"Mal. Como seria de esperar." Bebi um gole de chá. O calor era reconfortante. "A mãe dele estava lá, claro. A deitar veneno."
"Aquela mulher é uma víbora," disse Clara, com ferocidade. "Nunca gostei dela. Ela sempre te tratou como se fosses inferior."
"Hoje ela disse que o Pedro vai encontrar alguém melhor, alguém que lhe possa dar 'filhos de verdade'."
Clara praguejou baixinho. "Sinto muito, Eva. Ninguém devia ter de ouvir isso."
Ficámos em silêncio por um momento. O barulho do trânsito lá fora era um zumbido distante.
"Eu fui ao médico hoje," continuei. "Antes de ir para casa."
Clara esperou, a sua expressão paciente.
"Eles confirmaram. Infertilidade secundária. A hemorragia causou demasiados danos."
As lágrimas que eu tinha segurado o dia todo finalmente começaram a cair. Clara não disse nada, apenas me abraçou outra vez, deixando-me chorar no ombro dela.
"Não é tua culpa," ela sussurrou, repetidamente. "Não é tua culpa."
Mas as palavras de Sofia ecoavam na minha cabeça. Uma mulher que não consegue sequer manter um filho.
"Eu sinto que falhei, Clara," solucei. "Eu falhei com o Leo."
"Não, não falhaste," disse ela, afastando-se para olhar para mim. "O Pedro falhou contigo. O sistema de saúde falhou contigo. O mundo falhou contigo naquele dia. Mas tu? Tu lutaste. Tu fizeste tudo o que podias."
As suas palavras eram uma pequena luz na minha escuridão. Eu queria acreditar nela. Eu precisava de acreditar nela.
"O que é que eu faço agora?" perguntei, a minha voz rouca de tanto chorar.
"Agora," disse ela, com uma determinação feroz, "tu descansas. E amanhã, nós começamos a planear o teu divórcio. Vais conseguir o que te é devido. E vais construir uma nova vida. Longe deles."