Na manhã seguinte, o meu telemóvel estava cheio de mensagens e chamadas perdidas do Pedro. Ignorei-as todas.
Em vez disso, liguei a uma advogada que uma colega de trabalho me tinha recomendado. O nome dela era Dr.ª Almeida.
Consegui uma consulta para essa mesma tarde. Clara insistiu em ir comigo.
O escritório da Dr.ª Almeida era moderno e impecável. Ela era uma mulher de meia-idade, com um olhar perspicaz e um aperto de mão firme.
Contei-lhe tudo. O casamento, a gravidez, o dia da perda do Leo, a escolha do Pedro, o comportamento da sogra, o diagnóstico de infertilidade.
Ela ouviu atentamente, sem interromper, a tomar notas num bloco de papel.
Quando terminei, ela pousou a caneta.
"Sra. Mendes," começou ela, "primeiro que tudo, lamento a sua perda. O que você passou é inimaginável."
A sua empatia era profissional, mas genuína. Senti-me vista.
"Quanto ao divórcio," continuou ela, "temos um caso forte. O seu marido abandonou-a numa emergência médica que resultou diretamente na perda do vosso filho e na sua subsequente infertilidade. Isto é mais do que apenas 'diferenças irreconciliáveis'. Isto é negligência grosseira."
"O que é que isso significa, em termos práticos?" perguntou Clara.
"Significa que podemos argumentar por uma divisão de bens mais favorável para a Eva, bem como uma pensão de alimentos significativa, dada a forma como as ações do marido dela impactaram a sua saúde e futuro."
Pedro e eu tínhamos comprado um apartamento juntos. Era a nossa maior posse. Ele tinha investido mais dinheiro inicialmente, algo que a sua mãe nunca me deixou esquecer.
"Ele vai lutar," disse eu. "A família dele é rica. Eles vão contratar os melhores advogados."
"E nós vamos estar preparados," disse a Dr.ª Almeida, com um sorriso confiante. "A primeira coisa que precisamos de fazer é reunir todas as provas. Registos telefónicos daquele dia, o seu historial médico, testemunhas. A sua irmã, por exemplo."
Ela olhou para Clara, que assentiu vigorosamente. "Eu testemunharei. Eu direi tudo o que sei."
"Excelente," disse a Dr.ª Almeida. "Vamos enviar a petição de divórcio ao seu marido amanhã. A partir de agora, toda a comunicação deve passar por mim. Não fale com ele. Não responda às mensagens dele. Se ele ou a mãe dele a contactarem, diga-lhes para falarem comigo."
Senti um peso a ser levantado dos meus ombros. Ter alguém a lutar por mim, a tomar as rédeas, era um alívio imenso.
"Há mais uma coisa," disse a Dr.ª Almeida, o seu tom a ficar mais sério. "O primo dele, o Tiago. E a tia. Eles podem ser peças-chave nisto. Precisamos de saber exatamente o que aconteceu do lado deles."
A ideia de ter de lidar com mais membros da família do Pedro era nauseante. Mas eu sabia que ela tinha razão.
A verdade precisava de vir à tona. Toda ela.