O meu cérebro trabalhava a alta velocidade, juntando as peças.
O desespero do Pedro. A sua insistência para que o Miguel salvasse a Helena a qualquer custo.
A sua frieza para comigo depois da morte do Miguel.
O seu foco total na Helena.
Será que ele sabia? Será que ele usou o meu irmão?
Peguei no meu telemóvel e disquei o número do Pedro.
Desta vez, ele atendeu.
"Sofia? Finalmente. Estava a ficar preocupado." A voz dele soava falsamente preocupada.
"Precisamos de conversar, Pedro." A minha voz era desprovida de qualquer emoção.
"Claro. Mas pode ser mais tarde? A Helena acabou de adormecer. Ela teve um pesadelo terrível."
"Não. Tem de ser agora. Encontra-me no café perto do meu apartamento em vinte minutos."
Desliguei antes que ele pudesse protestar.
Cheguei ao café primeiro. Sentei-me numa mesa no canto, de costas para a parede.
Coloquei o telemóvel do Miguel na mesa à minha frente.
Pedro chegou alguns minutos depois. O seu rosto parecia cansado e irritado.
"Sofia, isto é realmente necessário? Eu disse-te que a Helena..."
"Senta-te, Pedro."
Ele pareceu surpreendido com o meu tom, mas sentou-se.
"O que se passa? Olha, eu sei que estás de luto. E peço desculpa se pareci insensível. Tem sido... muito."
Eu olhei diretamente nos olhos dele.
"O Miguel e a Helena tinham um caso."
Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação.
O rosto do Pedro perdeu toda a cor. Por um segundo, vi pânico nos seus olhos antes de ele o mascarar com raiva.
"O que estás a dizer? Isso é ridículo! Estás a inventar coisas por causa do teu luto!"
Deslizei o telemóvel do Miguel pela mesa até ele.
"Vê por ti mesmo."
Ele olhou para o telemóvel, depois para mim. Hesitou.
"Não vou olhar para as coisas pessoais do teu irmão. Isso é desrespeitoso."
"Não sejas hipócrita, Pedro. Tu leste as mensagens dele. Tu sabias."
Ele levantou-se abruptamente, a cadeira a raspar ruidosamente no chão.
"Eu não tenho de ouvir isto. Estás a delirar."
"Tu usaste-o!", a minha voz elevou-se, atraindo os olhares de outros clientes. "Tu sabias que eles tinham um caso. Sabias que o Miguel faria qualquer coisa por ela. Tu enviaste-o para a morte!"
"Cala a boca!", sibilou ele, inclinando-se sobre a mesa. "Tu não sabes de nada!"
"Eu sei que o meu irmão está morto porque tu o manipulaste! Tu sacrificaste-o para teres a tua irmã de volta e para te livrares do amante dela de uma só vez!"
A verdade pairava no ar entre nós, feia e inegável.
O rosto do Pedro contorceu-se numa máscara de ódio.
"Ele mereceu", cuspiu ele, a sua voz baixa e cheia de veneno. "Ele estava a roubar a minha irmã de mim. Ele ia destruí-la. Ele era uma má influência."
O meu coração parou.
Ele admitiu.
"Então, sim", continuou ele, um sorriso cruel a formar-se nos seus lábios. "Eu sabia que era perigoso. Eu sabia que ele poderia não voltar. E sabes que mais? Eu não me importei. Foi a solução perfeita. A Helena está segura, e o problema desapareceu."
Senti o ar a faltar-me nos pulmões.
A crueldade dele era de cortar a respiração.
"Tu és um monstro."
"E tu és uma tola ingénua. Sempre foste."
Ele virou-se para sair.
"O nosso noivado está cancelado", disse eu, a minha voz a ecoar no silêncio que se tinha instalado à nossa volta.
Ele riu-se, um som oco e desagradável.
"Eu já tinha cancelado na minha cabeça no momento em que soube que ele morreu. Casar com a irmã do homem que arruinou a minha família? Não, obrigado."
Ele saiu do café, deixando-me sozinha com a verdade devastadora.
O meu irmão não morreu apenas num ato de heroísmo.
Ele foi assassinado.
E o homem que eu amava era o assassino.