Contra Tudo e Todos: A Guerra de Laura
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Capítulo 1

O médico entregou-me um envelope pardo. Dentro estava o teste de paternidade.

"Senhora, o seu marido tem razão," disse ele, com um tom neutro. "O feto não era dele."

Eu segurei o envelope. O papel parecia pesado nas minhas mãos.

"Obrigada, doutor," respondi, a minha voz soando distante.

Saí do consultório. Lá fora, o sol de Lisboa brilhava intensamente, mas eu não sentia o seu calor.

O meu marido, Pedro, estava à minha espera no corredor. Ele não olhou para mim. Os seus olhos estavam fixos no chão de azulejo.

"E então?" perguntou ele.

"Tinham razão," disse eu. "O filho não era teu."

Pedro levantou a cabeça. O alívio no seu rosto foi imediato e óbvio. Um sorriso quase escapou-lhe dos lábios.

"Eu sabia," disse ele. "A minha mãe nunca se engana."

A sua mãe. Sofia. A mulher que transformou a minha vida num inferno desde o dia em que me casei com o filho dela.

"Agora podemos finalmente resolver isto," continuou Pedro, já a caminhar em direção à saída. "Vou ligar ao meu advogado. O divórcio será rápido. Dada a... situação, não tens direito a nada."

Eu não disse nada. Apenas o segui para fora do hospital.

O silêncio no carro era denso. Eu olhava pela janela para as ruas familiares de Lisboa a passarem. Cada esquina, cada café, uma memória. Memórias que agora pareciam pertencer a outra pessoa.

O meu telemóvel vibrou na minha mala. Era uma mensagem da minha irmã, Clara.

"Como correu? Estás bem?"

Não respondi. O que poderia eu dizer?

Pedro parou o carro em frente ao nosso prédio.

"Podes ir buscar as tuas coisas," disse ele, sem me encarar. "Mas sê rápida. A minha mãe vem cá hoje à noite. Ela não te quer ver aqui."

Subi as escadas. O nosso apartamento, que antes era o meu refúgio, agora parecia um território inimigo.

Abri a porta. A primeira coisa que vi foi um par de sapatos de mulher caros perto da entrada. Não eram meus.

Do quarto, ouvi vozes. A de Pedro e a de outra mulher. Era a voz dela. A voz da amante dele, Inês.

"Ela já sabe?" perguntou Inês, a sua voz um sussurro conspirador.

"Sim," respondeu Pedro. "Mostrei-lhe o teste falso que a mãe mandou fazer. Ela acreditou em tudo."

O meu coração parou.

Falso. O teste era falso.

"Ela vai assinar os papéis do divórcio sem pedir nada," continuou Pedro, orgulhoso. "Pensa que a culpa é dela. A minha mãe é um génio."

"E o bebé?" perguntou Inês. "Era mesmo teu?"

Houve uma pausa.

"Claro que era," disse Pedro, a sua voz baixa. "Mas era a única maneira de me livrar dela sem lhe dar um tostão. Agora, finalmente, podemos ficar juntos."

Eu fiquei paralisada no corredor. O som do meu próprio sangue a pulsar nos meus ouvidos era ensurdecedor.

O bebé. O meu bebé. O nosso bebé.

Ele sacrificou o nosso filho por dinheiro.

A raiva subiu pela minha garganta, quente e amarga. Abri a porta do quarto com um estrondo.

Pedro e Inês viraram-se, os seus rostos uma mistura de choque e pânico.

Eu olhei diretamente para Pedro.

"O teste era falso."

Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação.

O rosto de Pedro ficou pálido.

"O que estás aqui a fazer? Eu disse para ires buscar as tuas coisas!"

"Responde-me," insisti eu, a minha voz a tremer de fúria. "Tu mentiste. Tu fizeste-me acreditar que eu te tinha traído."

Ele não respondeu. A sua cobardia era a única resposta de que eu precisava.

Eu ri. Um som oco e sem alegria.

"Divórcio? Sim, Pedro. Vamos ter um divórcio. Mas não vai ser como tu e a tua mãe planearam."

Virei-me e saí do apartamento, deixando-os ali, no meio da sua traição.

Na rua, finalmente respirei. O ar parecia diferente. Mais leve.

Eu tinha perdido tudo. O meu marido, a minha casa, o meu bebé.

Mas eles não me tinham destruído. Eles tinham-me libertado.

E eu ia fazê-los pagar.

            
            

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