"Vamos cancelar o casamento," disse eu, com a voz calma.
A minha mãe abraçou-me com força. "Minha filha, não fiques assim. Vamos para casa."
O senhor Matias insistiu. "Não, a culpa é do meu filho. A família Matias vai compensar-te."
Eu abanei a cabeça. "Não preciso de compensação. Só quero acabar com isto."
Deixei a igreja sob o olhar de todos. O vestido de noiva parecia pesado e ridículo. Quando cheguei a casa, tirei-o e atirei-o para um canto.
Vesti as minhas roupas normais e sentei-me no sofá, a olhar para o vazio. A nossa casa, que tínhamos decorado juntos, estava cheia de fotografias nossas. Em cada uma delas, sorríamos felizes.
Comecei a tirar as fotografias das paredes, uma por uma. Coloquei-as todas numa caixa.
O meu telemóvel tocou. Era o Pedro.
Hesitei, mas atendi.
"Clara," a sua voz estava fraca, cheia de culpa. "Desculpa. Eu não queria que descobrisses desta forma."
"Descobrir o quê, Pedro? Que tens leucemia ou que me estavas a trair com a minha melhor amiga?"
Ele ficou em silêncio por um momento. "A Sofia... ela tem estado a cuidar de mim. Ela entende a minha doença."
"E eu não entenderia? Estiveste a mentir-me durante três anos."
"Eu não queria que sofrêsseis," disse ele. "Eu amo-te, Clara. Eu só precisava de tempo."
"Tempo para quê? Para decidires qual de nós querias?" A minha voz estava fria. "Não preciso de ser uma opção, Pedro. Acabou."
Desliguei o telefone e bloqueei o número dele.
Senti um nó na garganta, mas não chorei. A dor era demasiado profunda para lágrimas. Era uma sensação de traição que me consumia por dentro.
A minha melhor amiga e o meu noivo. Juntos, nas minhas costas.
A campainha tocou. Era o senhor Matias. Ele parecia exausto.
"Clara, eu vim para te pedir desculpa em nome do Pedro. E para te dar isto."
Ele estendeu-me um envelope.
"É um cheque. Eu sei que o dinheiro não pode compensar a dor, mas por favor, aceita-o como um pedido de desculpas da nossa família."
Olhei para o envelope e empurrei-o de volta para ele. "Eu não quero o seu dinheiro, senhor Matias. Só quero esquecer que isto aconteceu."
"Eu entendo," disse ele, com a voz triste. "Mas há outra coisa. O Pedro precisa de um transplante de medula óssea. Fizemos os testes... e a Sofia não é compatível."
Ele fez uma pausa, olhando para mim com uma expressão suplicante.
"Clara, eu sei que não tenho o direito de te pedir isto, mas... poderias fazer o teste de compatibilidade? Por favor. É a única esperança dele."