Olhei para o senhor Matias. O seu pedido era inacreditável.
"Você está a pedir-me para salvar o homem que me humilhou em frente de centenas de pessoas? O homem que me traiu com a minha melhor amiga?"
"Eu sei," ele baixou a cabeça. "Eu sei que é um pedido egoísta. Mas ele é o meu filho. Eu não o posso perder."
O desespero na sua voz era real. Por um momento, senti pena dele. Mas a minha própria dor era mais forte.
"Não," disse eu, com firmeza. "A minha resposta é não. O Pedro fez a sua escolha. Ele escolheu a Sofia. Deixe que ela o salve."
"Mas ela não é compatível!"
"Isso não é problema meu," respondi friamente. "Por favor, vá-se embora, senhor Matias."
Fechei-lhe a porta na cara. Encostei-me a ela, a minha respiração ofegante. O meu coração batia descontroladamente.
Como é que ele se atreveu a pedir-me tal coisa?
Nos dias seguintes, a minha vida tornou-se um inferno. As notícias do casamento cancelado espalharam-se rapidamente. Recebi dezenas de chamadas e mensagens de amigos e familiares, todos a perguntar o que tinha acontecido.
Eu ignorei a maioria delas.
A Sofia também tentou contactar-me. Enviou-me longas mensagens, a pedir desculpa e a tentar explicar-se.
"Clara, eu não queria magoar-te. Eu amo o Pedro há muito tempo. Quando a doença dele voltou, eu só queria estar lá para ele. Por favor, perdoa-me."
Apaguei as mensagens dela sem responder.
Uma semana depois, a minha mãe veio visitar-me. Ela encontrou-me sentada no escuro, rodeada de caixas.
"Clara, tens de sair disto," disse ela, com a voz suave. "Eu sei que dói, mas não podes deixar que eles te destruam."
"Eu não sei o que fazer, mãe."
"Primeiro, vamos livrar-nos de tudo isto," disse ela, apontando para as caixas. "Depois, vais tirar umas férias. Vais para longe daqui e vais limpar a cabeça."
A ideia pareceu-me boa. Eu precisava de fugir.
Naquela noite, recebi outra visita inesperada. Era a Sofia. Ela estava à minha porta, com o rosto pálido e os olhos vermelhos de tanto chorar.
"Clara, por favor, temos de conversar," disse ela.
Tentei fechar-lhe a porta, mas ela pôs o pé no meio.
"Por favor," ela implorou. "É sobre o Pedro. Ele está a piorar."