Na noite do meu casamento, o meu marido, Pedro, recebeu uma chamada.
Era a sua ex-namorada, Sofia.
"Pedro, estou no hospital. O médico diz que é grave. Estou com tanto medo."
A voz dela soava fraca e trémula através do telefone.
Pedro olhou para mim, a sua expressão era uma mistura de desculpa e ansiedade.
"Laura, eu preciso de ir."
Eu estava sentada na beira da nossa cama de hotel, ainda com o meu vestido de noiva.
O tecido branco parecia frio contra a minha pele.
"Hoje é a nossa noite de núpcias, Pedro."
A minha voz saiu mais calma do que eu esperava.
Ele agarrou nas chaves do carro.
"Eu sei. Mas a Sofia... ela não tem mais ninguém aqui. A família dela está noutra cidade. Eu sou a única pessoa que ela conhece."
"Eu volto logo. Prometo."
Ele saiu apressado, deixando-me sozinha no quarto silencioso.
A promessa dele pairou no ar, vazia.
Eu não o impedi. O que poderia eu dizer?
Dizer-lhe para não ir far-me-ia parecer uma esposa ciumenta e insensível.
Mas o meu coração sentia-se pesado.
Fiquei ali sentada por horas. O relógio na parede fazia um tique-taque alto, cada segundo a marcar a minha solidão.
Liguei-lhe.
Sem resposta.
Liguei outra vez.
Direto para o correio de voz.
Finalmente, adormeci, exausta, com o vestido de noiva ainda vestido.
Quando acordei na manhã seguinte, ele ainda não tinha voltado.
O lado dele da cama estava intocado, frio.
A maquilhagem do meu casamento estava borrada no meu rosto.
Senti-me como uma piada.
Pouco depois, o telefone dele finalmente tocou.
Mas não era ele.
Era a mãe dele, a minha sogra, Helena.
"Laura, o Pedro está contigo?"
A voz dela era aguda, cheia de preocupação.
"Não. Ele não passou a noite aqui."
Houve um silêncio do outro lado da linha, depois um suspiro profundo.
"Aquele rapaz tolo. Ele está no hospital com a Sofia. Ela teve uma overdose de comprimidos para dormir."
Senti o meu estômago revirar.
"O quê?"
"Sim. Aparentemente, ela não conseguiu lidar com o facto de ele se ter casado contigo. Ela tentou... tu sabes. O Pedro encontrou-a a tempo. Ele está a sentir-se terrivelmente culpado."
Culpado.
Ele sentia-se culpado por a sua ex-namorada não conseguir aceitar o nosso casamento.
E eu? O que é que eu devia sentir?
"Helena, eu preciso de desligar."
Não esperei pela resposta dela. Desliguei a chamada e sentei-me na cama, a olhar para o nada.
O nosso casamento mal tinha começado, e já estava assombrado pelo fantasma da ex-namorada dele.
Um fantasma que estava muito vivo.
---