Capítulo 3

Fui para o apartamento da minha irmã, Ana.

Ela abriu a porta e o seu sorriso desapareceu quando viu o meu rosto e a mala.

"O que aconteceu?"

Entrei e desabei no sofá dela.

Contei-lhe tudo. A chamada. A noite de núpcias sozinha. A overdose. O pedido de divórcio.

Ana ouviu em silêncio, a sua expressão a endurecer a cada palavra.

Quando terminei, ela abraçou-me com força.

"Fizeste a coisa certa, Laura. Aquele homem é um idiota."

Fiquei com a Ana durante alguns dias. Pedro ligou e mandou mensagens sem parar.

Primeiro, eram pedidos de desculpa.

"Laura, por favor, volta. Podemos resolver isto."

Depois, tornaram-se acusações.

"Estás a reagir de forma exagerada. Estás a destruir o nosso casamento por causa de um mal-entendido."

Finalmente, tornaram-se ameaças veladas.

"A minha mãe está arrasada. Pensas que é fácil para mim? A Sofia ainda está frágil. A tua atitude está a piorar tudo para todos."

Eu não respondi a nenhuma delas.

Uma semana depois, recebi uma chamada de um número desconhecido.

Atendi com hesitação.

"Laura?"

Era a Sofia. A voz dela ainda estava fraca, mas havia uma nota de triunfo nela.

"Eu só queria dizer que lamento por qualquer problema que tenha causado."

Não parecia sincero.

"O que queres, Sofia?"

"Eu quero que saibas que o Pedro é um bom homem. Ele tem um grande coração. Ele nunca abandona as pessoas que ama."

A implicação era clara. Ele amava-a. E eu? Eu era descartável.

"Estou feliz por estares a sentir-te melhor, Sofia."

A minha voz era gelada.

"Sim. O Pedro tem estado aqui todos os dias. Ele tem cuidado tão bem de mim."

Ela queria magoar-me. E estava a conseguir.

"Isso é ótimo para ti. Agora, se me dás licença, tenho coisas para fazer."

"Espera," disse ela rapidamente. "O Pedro disse-me que pediste o divórcio. Isso é verdade?"

"Sim."

Houve uma pausa.

"Bem, talvez seja o melhor. Ele merece alguém que o compreenda. Alguém que não seja tão egoísta."

Ela usou a mesma palavra que ele. Egoísta.

Eles devem ter tido longas conversas sobre a minha terrível personalidade.

Desliguei o telefone.

As minhas mãos tremiam de raiva.

Eles estavam a pintar-me como a vilã.

A esposa fria e sem coração que abandonou o seu nobre marido enquanto ele cuidava de uma donzela em apuros.

A narrativa deles era perfeita.

A minha era apenas dolorosa.

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