Pedro finalmente apareceu à tarde, com a cara cansada e os olhos vermelhos.
Ele trazia café e croissants, como se isso pudesse consertar alguma coisa.
"Laura, desculpa. As coisas ficaram complicadas."
Coloquei a minha mala no chão. Já tinha feito as malas.
"Eu sei. A tua mãe ligou-me."
Ele passou a mão pelo cabelo, um gesto que fazia quando estava stressado.
"Ela não devia ter-te incomodado. A Sofia está estável agora. Ela só precisa de descanso."
"E tu?" perguntei. "O que é que tu precisas, Pedro?"
Ele olhou para mim, confuso. "O que queres dizer? Eu estou aqui agora."
"Estás? Ou uma parte de ti ainda está com ela no hospital?"
A minha voz era fria. Não conseguia evitar.
A culpa no rosto dele transformou-se em frustração.
"Laura, não compliques as coisas. A vida de uma pessoa estava em risco. O que é que eu devia fazer? Deixá-la morrer?"
"Não. Mas talvez pudesses ter-me ligado. Talvez pudesses ter-te lembrado que tinhas uma esposa à tua espera na vossa noite de núpcias."
Ele suspirou, o som encheu o quarto.
"Eu sei que falhei. Mas eu estava em pânico. O meu telefone ficou sem bateria. Tudo aconteceu tão depressa."
Desculpas. Eram sempre desculpas.
"Eu quero o divórcio, Pedro."
As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse detê-las.
Mas no momento em que as disse, soube que era o que eu queria.
Ele olhou para mim, chocado.
"Divórcio? Estás a brincar? Casámo-nos ontem!"
"Exatamente. E passaste a nossa primeira noite a consolar a tua ex-namorada que tentou suicidar-se porque tu te casaste comigo. Que tipo de futuro achas que vamos ter?"
"Ela estava vulnerável! Ela precisa de mim!"
"E eu não? Eu sou a tua esposa! Eu deveria ser a tua prioridade."
A raiva dele explodiu.
"Não sejas egoísta, Laura! Isto não é sobre ti! Uma mulher quase morreu! Tens alguma compaixão?"
A palavra "egoísta" atingiu-me.
Eu era egoísta por querer o meu marido na nossa noite de núpcias.
Eu era egoísta por me sentir magoada e abandonada.
Peguei na minha mala.
"Sim, tenho compaixão. É por isso que te estou a deixar ir. Vai cuidar dela, Pedro. Claramente, é onde o teu coração está."
Saí do quarto de hotel e não olhei para trás.
---