"Absolutamente não!"
A voz estridente da mãe de João, a senhora Matos, cortou o ar.
"Laura, você perdeu o juízo? João já nos envergonhou o suficiente, e agora você quer piorar as coisas se casando com... com esse aí?"
Ela olhou para Pedro com um desprezo evidente, como se ele fosse lixo.
Laura finalmente se virou para encará-la, o rosto ainda sereno.
"Senhora Matos, seu filho me abandonou no altar. Acredito que qualquer acordo que nossas famílias tinham está oficialmente desfeito."
"Isso não importa! Você não pode simplesmente escolher outro noivo como se estivesse no mercado! O que as pessoas vão dizer?"
Laura deu um pequeno sorriso, um sorriso que não alcançou seus olhos.
"As pessoas já estão dizendo que fui abandonada. Prefiro que digam que fui eu quem escolheu um novo caminho. Como diz o ditado, se a vida te dá limões, faça uma limonada."
Ela se virou novamente para Pedro, que ainda a olhava como se ela fosse uma aparição.
A senhora Matos ficou sem palavras, chocada com a ousadia dela.
Laura sabia o que ninguém mais ali sabia.
Ela sabia por que João tinha fugido.
Ele não fugiu por medo do casamento.
Ele fugiu porque sua amada irmã, Clara, a filha da madrasta de Laura, tinha feito uma cena dramática naquela manhã.
Clara, que sempre amou João, não suportou a ideia de vê-lo se casar com a irmã.
Na vida passada, Laura só descobriu muito mais tarde, através de cartas que encontrou, que João tinha passado a noite de núpcias e muitas outras noites consolando Clara, jurando que seu coração seria sempre dela.
O casamento deles foi uma farsa desde o primeiro segundo.
Ele se casou com Laura por pressão da família, para manter uma aliança de negócios, mas seu coração e sua alma pertenciam a Clara.
Laura se lembrou das décadas de solidão.
Das noites em que João chegava em casa bêbado, chamando pelo nome de Clara.
Dos anos em que dormiram em quartos separados, ele alegando que roncava demais, mas ela sabia que era para evitar qualquer intimidade.
Ela cumpriu seu papel de esposa, mãe e nora perfeitamente, mas foi uma performance vazia.
Uma vida de serviço não recompensado.
Agora, olhando para o rosto chocado de Pedro, ela sentia uma paz que nunca conhecera.
Ela estava finalmente tomando as rédeas de sua própria vida.
"Eu não me importo com João" , disse Laura, sua voz baixa, mas firme, para que todos ouvissem.
"Ele pode ficar com quem ele quiser. Eu o liberto. E me liberto dele."
O peso daquelas palavras pareceu mudar a atmosfera do salão.
Não era mais sobre a vergonha de uma noiva abandonada.
Era sobre a declaração de independência de uma mulher.