Eu estava a ver um vídeo de casamento no meu telemóvel, era o meu.
Nele, o meu marido, Pedro, abraçava-me com força.
Os seus olhos estavam cheios de um amor tão profundo que parecia poder afogar-me.
"Eva, és a luz da minha vida, prometo cuidar de ti e do nosso futuro filho para sempre."
A sua voz era firme e cheia de emoção, fazendo com que todos os convidados aplaudissem.
Naquela altura, eu acreditava que era a mulher mais feliz do mundo.
Mas agora, olhando para a minha barriga lisa, só sentia uma ironia gelada.
O nosso filho já não existia.
E o homem que prometeu amar-me para sempre, neste momento, estava a confortar outra mulher, a minha meia-irmã, Sofia.
"Pedro, obrigada por teres vindo salvar-me primeiro, se não fosses tu, eu e o meu gatinho, Neve, teríamos morrido naquele incêndio."
A voz fraca e chorosa de Sofia veio do outro lado da linha, seguida pela voz ansiosa do meu padrasto, Ricardo.
"Pedro, a Sofia está assustada, fica com ela, a mãe dela e eu estamos a caminho."
Desliguei a chamada.
Não queria ouvir mais.
Há três horas, o prédio de apartamentos onde eu morava pegou fogo.
Eu estava grávida de oito meses, presa na casa de banho, a tossir violentamente por causa do fumo denso.
Liguei ao Pedro desesperadamente, uma, duas, dezoito vezes.
Finalmente, ele atendeu.
A sua voz estava cheia de impaciência.
"Eva, o que foi? O prédio da Sofia também está a arder, ela está mais perto do fogo, vou salvá-la primeiro, espera que os bombeiros te salvem!"
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele desligou.
Naquele momento, o mundo pareceu ficar em silêncio.
O fumo espesso encheu os meus pulmões, e a minha consciência começou a ficar turva.
O desespero envolveu-me como uma maré.
Felizmente, os bombeiros chegaram a tempo e tiraram-me do mar de fogo.
Mas o meu filho, por falta de oxigénio, nunca mais acordou.
Deitada na cama do hospital, olhei para o teto branco.
As lágrimas escorriam silenciosamente pelos cantos dos meus olhos.
Eu e o Pedro estávamos casados há três anos.
Para ter este filho, sofri muito, fiz inúmeros exames e tomei inúmeros medicamentos.
Lembro-me da alegria dele quando soube que eu estava grávida, ele abraçou-me e girou, dizendo que ia ser o melhor pai do mundo.
Mas agora, tudo se tinha tornado uma piada.
O meu telemóvel vibrou, era uma mensagem do Pedro.
"A Sofia está bem, só um pouco assustada. Não te preocupes. Descansa bem."
Não me preocupar?
Ele disse-me para não me preocupar?
O meu coração doeu tanto que eu mal conseguia respirar.
Respondi com os dedos a tremer.
"Pedro, o nosso filho morreu."
Depois de enviar a mensagem, atirei o telemóvel para o lado.
Não queria ver a resposta dele, nem queria ouvir a voz dele.
Fechei os olhos, tentando forçar-me a não pensar em nada.
Mas as imagens do passado continuavam a aparecer na minha mente.
A sua gentileza, o seu amor, as suas promessas.
Agora, tudo parecia tão falso.
O que é que eu era para ele?
Será que eu e o nosso filho, que estava prestes a nascer, não éramos tão importantes como a Sofia e o seu gato?
O meu coração sentia-se como se tivesse sido esvaziado, deixando apenas uma dor sem fim.
Talvez, desde o início, eu estivesse errada.
Eu não devia ter acreditado tão facilmente nas promessas de um homem.