O Pedro não respondeu à minha mensagem.
Talvez não tenha visto, ou talvez não se importasse de todo.
A porta da enfermaria abriu-se e a minha mãe, Lúcia, entrou com os olhos vermelhos.
Ela sentou-se ao lado da minha cama, segurando a minha mão, a sua voz embargada.
"Eva, a mãe sabe que estás a sofrer, chora se quiseres."
Olhei para o rosto preocupado da minha mãe, e as lágrimas que eu tinha contido finalmente caíram.
Enterrei-me nos braços dela, a chorar como uma criança desamparada.
A minha mãe deu-me palmadinhas suaves nas costas, sem dizer nada, apenas acompanhando-me silenciosamente.
Depois de muito tempo, o meu choro parou gradualmente.
A minha voz estava rouca.
"Mãe, eu quero o divórcio."
A minha mãe ficou rígida por um momento, depois suspirou.
"Eva, pensaste bem? O divórcio não é uma brincadeira."
"Eu pensei bem," disse eu, com os olhos firmes. "Um homem que pode abandonar a sua esposa e filho num momento de vida ou morte, não vale a pena a minha nostalgia."
"Mas e o Ricardo e a Sofia?" A minha mãe hesitou. "Sabes o temperamento do teu padrasto, se ele souber que te queres divorciar do Pedro por causa da Sofia, ele definitivamente..."
"Eu não me importo," interrompi-a. "Esta é a minha vida, eu tenho o direito de decidir."
Desde que a minha mãe se casou com o Ricardo, eu tenho sido cautelosa na casa deles.
Tentei agradar ao Ricardo, tentei levar-me bem com a Sofia.
Mas eles nunca me consideraram realmente como família.
Aos olhos deles, eu era sempre uma estranha.
Agora, eu já não queria aturar aquilo.
A minha mãe olhou para a minha expressão determinada e não disse mais nada.
Ela apenas me abraçou com força.
"Não importa o que decidas, a mãe vai apoiar-te."
Nesse momento, o telemóvel da minha mãe tocou.
Era o Ricardo.
A minha mãe hesitou, mas acabou por atender a chamada.
A voz zangada do Ricardo veio imediatamente do outro lado da linha.
"Lúcia! Onde estás? A Sofia está assustada, porque não vens depressa para o hospital?"
"Eu... estou com a Eva," a minha mãe disse em voz baixa.
"Eva? O que há de errado com ela? Ela não está bem? A Sofia é a que realmente precisa de cuidados agora!" A voz do Ricardo estava cheia de descontentamento.
O meu coração arrefeceu completamente.
Aos olhos dele, a sua filha biológica era um tesouro, enquanto eu, a sua enteada, não valia nada.
"Ricardo," a minha voz estava fria, "eu também estava no prédio em chamas, o meu filho... morreu."
Houve um silêncio do outro lado da linha.
Depois de alguns segundos, a voz do Ricardo soou novamente, mas o seu tom era um pouco menos duro.
"Então é isso... Bem, descansa bem. Eu e a tua mãe vamos visitar-te mais tarde."
Ele desligou o telefone.
Eu olhei para o telemóvel, um sorriso amargo nos meus lábios.
Nem uma única palavra de consolo.
Era este o meu padrasto.