O meu pai aproximou-se, com o rosto sombrio.
"Eva, para."
A sua voz era baixa e carregada de dor.
Olhei para ele, para o seu cabelo que tinha ficado visivelmente mais grisalho em apenas alguns dias.
Senti uma pontada no coração.
Mas não podia parar.
Se eu parasse agora, estaria a desrespeitar o meu irmão morto.
"Pai, tu também sabias, não sabias? Sabias que a família do Pedro está a tentar encobrir isto."
O meu pai não respondeu, apenas me olhou com um olhar complexo.
O pai do Pedro, o Sr. Almeida, um homem que sempre me tratara com gentileza, aproximou-se com uma expressão séria.
"Eva, eu compreendo a tua dor. Mas o Tiago vai assumir a responsabilidade legal. A nossa família não vai fugir à responsabilidade."
"Responsabilidade legal?"
Ri-me com desdém.
"Que responsabilidade? Pagar algum dinheiro? Pedir desculpa? Isso pode trazer o meu irmão de volta?"
"Eva, sê razoável!"
Pedro gritou, a sua paciência tinha chegado ao limite.
"O que mais queres que façamos? Queres que o Tiago pague com a vida dele? Isto é uma sociedade regida pela lei!"
"Lei?"
Virei-me para ele, os meus olhos estavam frios.
"Quando o teu primo estava a conduzir bêbado, pensou ele na lei? Quando vocês decidiram esconder a verdade de mim, pensaram na lei?"
"Nós não escondemos nada! A polícia está a investigar!"
Pedro defendeu-se, mas a sua voz denunciava a sua falta de confiança.
"A investigar?"
Tirei o meu telemóvel do bolso e mostrei-lhes uma fotografia.
Era uma captura de ecrã de uma publicação nas redes sociais da Sofia.
Foi publicada na noite do acidente.
Na foto, a Sofia, o Pedro e o Tiago estavam a sorrir para a câmara, com um bolo de aniversário à frente deles.
A legenda dizia: "A melhor festa de aniversário de sempre! Obrigada, irmão e primo!"
O ar ficou pesado.
Os rostos dos Almeida ficaram pálidos.
"Isto... isto foi antes do acidente."
Sofia gaguejou, tentando explicar.
"Antes?"
Aproximei-me dela, a minha voz era perigosamente calma.
"Então diz-me, Sofia, depois de o teu primo ter morto o meu irmão, o que é que vocês fizeram? Foram diretos para casa chorar? Ou continuaram a festa?"
O seu rosto perdeu toda a cor.
Ela recuou, tropeçando nos seus próprios pés.
Pedro apanhou-a, olhando para mim com um olhar de traição.
"Eva, como pudeste? Estás a investigar-nos?"
"Investigar?"
Senti vontade de rir.
"Pedro, isto não é uma investigação. Isto é a verdade. Uma verdade que vocês tentaram esconder de mim."
Virei-me para o Sr. Almeida.
"Sr. Almeida, sempre o respeitei como um ancião. Mas agora, só sinto nojo."
"A vossa família pode ter dinheiro e poder. Podem conseguir que o vosso primo receba uma sentença mais leve. Mas eu digo-vos uma coisa."
Fiz uma pausa, olhando para cada um deles.
"Eu não vou desistir. Vou fazer com que ele pague o preço que merece. Mesmo que tenha de arriscar tudo."
Depois de dizer isto, virei-me e saí.
Não olhei para trás.
Sabia que os meus pais estavam a chamar-me.
Sabia que o Pedro estava furioso.
Mas nada disso importava.
Naquele momento, só havia um pensamento na minha mente.
Vingança.