A Coragem de Uma Irmã
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Capítulo 4

Quando cheguei a casa, os meus pais estavam sentados na sala de estar, em silêncio.

A atmosfera era pesada e opressiva.

"Onde estiveste?"

O meu pai perguntou, a sua voz era um murmúrio cansado.

"Fui dar uma volta."

Respondi, evitando o seu olhar.

A minha mãe, com os olhos vermelhos de tanto chorar, olhou para mim.

"Eva, o pai do Pedro ligou. Ele pediu desculpa. Ele disse que vão compensar-nos."

"Compensar?"

Ri-me, um som amargo.

"Como é que eles planeiam compensar-nos? Com dinheiro? Quanto vale a vida do Miguel?"

"Eva, não fales assim."

A minha mãe repreendeu-me suavemente.

"Eu sei que estás a sofrer, mas..."

"Mas o quê? Devo aceitar o dinheiro deles e fingir que nada aconteceu?"

Levantei a voz, a raiva a borbulhar dentro de mim.

"Eles mataram o Miguel! E mentiram-nos! Como podem esperar que os perdoemos?"

"Ninguém está a dizer para perdoares!"

O meu pai interveio, a sua voz era severa.

"Mas temos de ser realistas. Eles são uma família poderosa. Lutar contra eles não nos vai trazer nada de bom."

"Então devemos simplesmente desistir? Deixar que o assassino do Miguel se safe com uma pena leve?"

Olhei para o meu pai, incrédula.

"Miguel era o teu filho! Como podes ser tão calmo?"

O meu pai levantou-se, o seu rosto contorcido de dor.

"Tu achas que eu estou calmo? Achas que eu não sinto dor?"

A sua voz tremeu.

"Todas as noites, eu vejo o teu irmão nos meus sonhos. Ele pergunta-me por que não o protegi."

Lágrimas brotaram nos seus olhos.

"Mas o que posso fazer? Eu sou apenas um homem comum. Não tenho dinheiro, não tenho poder. Como posso lutar contra eles?"

O seu desamparo atingiu-me como um soco no estômago.

Senti-me culpada por ter gritado com ele.

Mas não podia recuar.

"Eu vou lutar."

Disse eu, a minha voz era suave mas firme.

"Já contratei um advogado."

Os meus pais olharam para mim, chocados.

"Tu o quê?"

A minha mãe exclamou.

"Eva, isso é uma loucura! Vais arruinar a tua vida!"

"A minha vida já está arruinada."

Respondi calmamente.

"O Miguel se foi. O meu noivado acabou. O que mais tenho a perder?"

"Tens-nos a nós!"

A minha mãe chorou.

"Por favor, Eva, não faças isto. Pensa em nós."

Olhei para os meus pais, para os seus rostos envelhecidos e cheios de preocupação.

O meu coração doeu.

Mas a imagem do meu irmão, deitado numa poça de sangue, era mais forte.

"É precisamente porque estou a pensar em nós que tenho de fazer isto."

Disse eu.

"Não posso deixar que o sacrifício do Miguel seja em vão. Não posso viver comigo mesma sabendo que não fiz tudo o que podia para lhe fazer justiça."

Virei-me e fui para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim.

Encostei-me à porta, o meu corpo a tremer.

Ouvi os soluços da minha mãe do outro lado.

Cada soluço era como uma faca no meu coração.

Sabia que os estava a magoar.

Mas não via outra saída.

Esta era a minha batalha.

E eu tinha de a travar, mesmo que tivesse de o fazer sozinha.

                         

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