A Verdade de Sofia: Contra o Vento e a Calúnia
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Capítulo 2

Assim que cheguei ao meu pequeno apartamento alugado, o meu telemóvel tocou novamente.

Era a minha mãe.

A sua voz estava cheia de preocupação.

"Filha, o que aconteceu? A tua tia ligou-me, a gritar. Disse que a Clara está no hospital e que a culpa é tua! E falou de um divórcio... Sofia, o que se passa?"

A minha tia, a mãe da Clara. Claro que ela ligaria.

Sentei-me no sofá vazio. O apartamento ainda cheirava a tinta fresca.

"É verdade, mãe. Eu e o Pedro vamos divorciar-nos."

"Mas porquê? Vocês pareciam tão felizes! E o bebé..."

Respirei fundo, tentando manter a voz firme.

"Eu perdi o bebé, mãe."

Silêncio. Um silêncio pesado, cheio de dor.

"Oh, minha filha... meu Deus. Quando? Como?"

"Há uma semana. Tive uma hemorragia. Liguei ao Pedro, mas ele não veio."

"Não veio? Para onde é que ele foi?"

"Estava com a Clara. Aparentemente, ela também está grávida. Dele."

Contei-lhe tudo. A chamada, a queda das escadas, as acusações.

A minha mãe, normalmente uma mulher calma e ponderada, explodiu.

"Aquele desgraçado! E a Clara! Como é que ela teve coragem? A tua própria prima! Vou já ligar à minha irmã, vou dizer-lhe umas quantas verdades!"

"Não, mãe. Por favor, não faças nada. Não vale a pena."

Eu não queria mais drama. Não queria mais gritos, mais acusações.

Só queria paz.

"Mas Sofia, eles não podem tratar-te assim! A família do Pedro... a Helena sempre te odiou!"

"Eu sei. Mas acabou. Assinei os papéis. Só quero seguir em frente."

"Seguir em frente? E vais para onde? Ficar nesse apartamento minúsculo? Volta para casa, filha. Eu cuido de ti."

A oferta era tentadora. O conforto da casa da minha infância, o carinho da minha mãe.

Mas eu precisava de fazer isto sozinha. Precisava de provar a mim mesma que conseguia.

"Agradeço, mãe. Mas preciso de ficar aqui. Preciso do meu espaço."

Conversámos mais um pouco. Ela tentou convencer-me, mas acabou por ceder, percebendo a minha determinação.

Depois de desligar, o silêncio do apartamento pareceu esmagador.

Durante três anos, a minha vida girou em torno de Pedro. Em torno da tentativa de engravidar. Em torno da construção de uma família que, afinal, era uma mentira.

Agora, eu não tinha nada.

Ou talvez... talvez eu tivesse tudo.

Tinha a mim mesma.

Pela primeira vez em muito tempo, eu não tinha de agradar a ninguém. Não tinha de me preocupar com o que a minha sogra pensava, ou com o humor do meu marido.

Eu podia simplesmente ser.

Levantei-me e fui até à cozinha. Abri o frigorífico. Estava quase vazio, exceto por uma garrafa de água e um iogurte.

Precisava de ir às compras. Precisava de construir uma nova vida, a começar pelas coisas mais básicas.

Era um pensamento assustador.

Mas também, estranhamente, libertador.

            
            

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