A Verdade de Sofia: Contra o Vento e a Calúnia
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Capítulo 3

Dois dias depois, recebi uma mensagem de um número desconhecido.

"Sofia, sou eu, o Pedro. Por favor, fala comigo. Precisamos de conversar. Encontra-me no nosso café de sempre, às 3 da tarde."

Hesitei. Uma parte de mim queria ignorar, apagar a mensagem e seguir em frente.

Mas outra parte, uma parte mais pragmática, sabia que havia assuntos por resolver. A divisão dos bens, os detalhes finais do divórcio. Era melhor resolver tudo cara a cara.

"Ok," respondi, simplesmente.

O "nosso café de sempre" era um pequeno estabelecimento acolhedor onde tivemos o nosso primeiro encontro. A ironia era palpável.

Cheguei pontualmente às 3. Ele já lá estava, sentado numa mesa de canto.

Parecia cansado. Tinha olheiras escuras e a sua barba, normalmente bem aparada, estava por fazer.

Quando me viu, levantou-se.

"Sofia. Obrigado por teres vindo."

Sentei-me, sem dizer uma palavra. Coloquei a minha mala na cadeira ao lado.

"Como estás?", perguntou ele, a sua voz baixa.

"Estou bem. O que queres, Pedro?"

Ele recuou um pouco com a minha franqueza.

"Eu... eu queria pedir desculpa. Pelo que aconteceu. Eu fui um idiota. Eu devia ter estado lá para ti."

"Sim, devias. Mas não estiveste."

Ele passou as mãos pelo cabelo, um gesto de frustração que eu conhecia bem.

"Eu entrei em pânico, ok? A Clara ligou-me, a chorar, a dizer que estava a passar mal. Eu não sabia o que fazer."

"Então foste ter com ela. E ignoraste as minhas 27 chamadas."

"Eu não sabia que era tão grave! Pensei que estavas apenas a ter uma cólica, ou..."

"Ou o quê, Pedro? Uma crise de histeria? Achaste que eu estava a exagerar, como sempre dizes que eu faço?"

Ele baixou o olhar.

"Eu sei que errei. Mas o divórcio... não é demasiado drástico? Podemos resolver isto. Podemos fazer terapia."

Eu quase ri.

"Terapia? Para quê? Para aprenderes a ser um marido fiel? Ou para eu aprender a aceitar que tens um filho com a minha prima?"

A sua cara contraiu-se.

"Sobre isso... a Clara perdeu o bebé."

Fiquei em silêncio por um momento. Não senti alegria, nem tristeza. Apenas um vazio. Aquela criança não tinha culpa de nada.

"Lamento ouvir isso," disse eu, sinceramente.

"Ela está destroçada," continuou ele. "E a culpa é tua."

Eu levantei uma sobrancelha.

"Minha? Como é que a culpa é minha?"

"A tua chamada! O stress do divórcio! Foi isso que a fez cair! O médico disse que o stress foi um fator!"

A audácia dele era inacreditável.

"Deixa-me ver se entendi. Eu perco o nosso filho porque tu me abandonaste para ir ter com a tua amante. E a tua amante perde o vosso filho porque eu decidi que não quero mais ser casada contigo. E de alguma forma, em ambos os cenários, a culpa é minha?"

Ele não respondeu. Apenas olhou para mim, com uma expressão de súplica.

"Sofia, por favor. Eu amo-te. Cometi um erro, um erro terrível. Mas és tu que eu amo."

"Tu não sabes o que é o amor, Pedro. Amor não é isto. Amor não é traição, não é abandono."

Abri a minha mala e tirei uma pasta. Coloquei-a em cima da mesa.

"Aqui está a lista dos meus bens. Quero o apartamento que os meus pais me deram como presente de casamento, e o meu carro. Podes ficar com o resto. A casa, os investimentos. Considera-o um presente de despedida para ti e para a tua futura família."

Ele olhou para a pasta, chocado.

"Não quero o teu dinheiro, Sofia. Eu quero-te a ti."

"Pois, mas eu não estou à venda."

Levantei-me. A conversa estava terminada.

"Adeus, Pedro."

Quando me virei para sair, ele agarrou-me no braço.

"Por favor, não faças isto."

Puxei o meu braço com força.

"Não me toques. Nunca mais."

Saí do café, deixando-o para trás, no meio dos destroços da vida que tínhamos construído. E pela primeira vez, senti um vislumbre de futuro. Um futuro que era só meu.

            
            

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