"Eu disse que não aceito essa palhaçada," repetiu Marcos, dando um passo à frente. "Meu filho foi agredido nesta escola, e vocês, em vez de tomarem uma providência, estão aceitando um suborno."
"Cuidado com as palavras, meu caro," disse o Sr. Almeida, a voz agora com um tom de ameaça. "Você não sabe com quem está falando."
Ricardo, o filho do empresário, vendo a confiança do pai, deu uma risadinha debochada. "Meu pai pode comprar essa escola inteira se ele quiser. E você junto."
Aquilo foi a gota d'água. A fúria que Marcos estava contendo explodiu. Num movimento rápido e inesperado, ele se moveu e deu um tapa forte na nuca de Ricardo. Não foi forte o suficiente para machucar seriamente, mas o estalo ecoou na sala silenciosa, cheio de humilhação.
"Opa!", disse Marcos, com um falso tom de surpresa. "Crianças são assim, não é mesmo? Às vezes a mão escapa."
Ricardo ficou chocado, os olhos arregalados de incredulidade. Ele nunca, em sua vida mimada, havia sido contrariado, muito menos tocado daquela forma. Sr. Almeida ficou vermelho de raiva.
"Você está louco? Você agrediu meu filho!"
"E você?", Marcos se virou para ele, o rosto a centímetros do empresário. "Você acha que seu dinheiro te coloca acima de tudo e de todos? Você e seu filho vão aprender uma lição. E vocês," ele apontou para a diretora e para a professora Ana, que estava paralisada de medo, "serão responsabilizados pela negligência."
Ele se virou, pegou a mão de Pedrinho e se dirigiu à porta.
"Isso não vai ficar assim!", gritou o Sr. Almeida. "Você vai se arrepender disso! Eu vou acabar com você!"
Na porta, Marcos parou e olhou por cima do ombro.
"A justiça será feita," ele declarou, a voz carregada de uma promessa sombria. "E não será a sua justiça comprada. Será a minha."
Ele saiu da sala, puxando Pedrinho gentilmente pelo corredor. Seu filho ainda tremia, mas agora havia um brilho de admiração em seus olhos ao olhar para o pai.
Assim que entraram no carro, Marcos pegou o celular. Seu primeiro telefonema foi para seu advogado, um dos melhores da cidade.
"Maurício, preciso de você. Meu filho foi agredido na escola e eles estão tentando abafar o caso. O agressor é filho do Sr. Almeida, do agronegócio. Sim, esse mesmo. Quero processar a escola, o garoto e o pai. Quero tudo."
Ele ouviu o advogado por um momento. "Não me importo com o quão poderoso ele é. Prepare a papelada. Amanhã de manhã, quero isso protocolado."
Ele desligou e olhou para Pedrinho no banco do passageiro. O menino ainda estava quieto, olhando para as próprias mãos. Marcos estacionou o carro em uma rua tranquila, desligou o motor e se virou para ele.
"Filho, você está bem?", ele perguntou, a voz agora suave.
Pedrinho balançou a cabeça. "Papai, eu estou com medo. O pai daquele menino é muito bravo."
"Eu sei. Mas você não precisa ter medo. Eu estou aqui. Eu nunca, nunca vou deixar ninguém machucar você de novo. Você me entende? Eu vou proteger você, não importa o que aconteça."
Ele puxou o filho para um abraço apertado. Pedrinho enterrou o rosto no peito do pai e finalmente começou a chorar de verdade, um choro de dor, medo e alívio. Marcos o segurou, sentindo a raiva se transformar em uma armadura de proteção.
Enquanto consolava o filho, seu celular vibrou com uma nova mensagem. Ele a abriu com uma mão, ainda abraçando Pedrinho com a outra. Era uma mensagem de um número desconhecido.
"Marcos, sou eu, Helena, a antiga babá do Pedrinho. Acabei de ver a Joana saindo de um hotel com o Sr. Almeida. Achei que você deveria saber. Eles pareciam bem íntimos. Mandei uma foto."
Abaixo da mensagem, uma foto borrada, mas inconfundível. Joana e o Sr. Almeida, de braços dados, rindo, entrando em um dos hotéis mais caros da cidade. A data na foto era da semana anterior.
A traição o atingiu com a força de um soco no estômago. Não era apenas sobre dinheiro ou poder. Joana o havia traído. Pior, ela havia traído o próprio filho, colocando seu relacionamento secreto com o pai do agressor acima da segurança e do bem-estar de Pedrinho. A insistência dela em abafar o caso, o broche, tudo fazia sentido agora.
Uma fúria fria tomou conta dele. Ele respirou fundo, controlando a emoção para não assustar Pedrinho.
Assim que deixou o filho seguro em casa, aos cuidados de uma vizinha de confiança, Marcos fez outro telefonema.
"Alô, Sérgio? É o Marcos. Preciso de um favor. Um grande favor. Preciso que você investigue duas pessoas para mim. Minha ex-esposa, Joana, e o empresário Sr. Almeida. Quero saber tudo. Onde eles vão, com quem falam, há quanto tempo isso está acontecendo. Não poupe despesas. Preciso de provas, Sérgio. Provas concretas e irrefutáveis."
Sérgio era o melhor investigador particular que ele conhecia. Discreto e eficiente.
"Considere feito, Marcos," respondeu a voz do outro lado da linha.
Ao desligar, Marcos ficou parado no meio da sala, a mente trabalhando furiosamente. Ele começou a juntar as peças. Joana vinha se queixando de dinheiro nos últimos meses, mesmo com a pensão generosa que ele pagava. Ela havia mencionado "um novo investidor" para seus projetos de design de interiores. O broche. As viagens de "negócios" repentinas.
A traição não era recente. Era um plano, uma teia de mentiras tecida bem debaixo de seu nariz. E ela estava disposta a sacrificar o próprio filho para proteger essa teia.
A porta se abriu e Joana entrou, o rosto uma máscara de raiva.
"Marcos, você ficou maluco? Bater no filho do Sr. Almeida? Você tem ideia do que você fez? Você arruinou tudo!"
Marcos a encarou, os olhos frios como gelo. A batalha tinha acabado de começar. E a primeira frente de guerra seria dentro de sua própria casa.