Minha Casa, Minha Liberdade
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Capítulo 3

A tarde arrastou-se. Sofia permaneceu no seu quarto, a porta firmemente fechada. Um silêncio pesado pairava sobre a casa.

Eu sentei-me na sala de estar, a olhar para as malas, à espera.

Finalmente, por volta das seis da tarde, ouvi uma chave a rodar na fechadura. A porta abriu-se com força, batendo contra a parede.

Pedro entrou, o seu rosto uma nuvem de trovoada. Ele parou abruptamente quando viu as malas. Os seus olhos foram das malas para mim, ardendo de raiva.

"Então é verdade," ele disse, a sua voz perigosamente baixa.

"Sim," respondi, levantando-me para o encarar.

Ele deu um passo na minha direção, o seu corpo tenso. "Tu não tinhas o direito."

"Eu tinha todo o direito. É a minha casa. E é o meu futuro."

A porta do quarto de Sofia abriu-se e ela apareceu no topo das escadas.

"Pedro, meu filho!" ela choramingou, descendo rapidamente. "Ela está a expulsar-nos!"

Ela agarrou-se ao braço dele, olhando para mim com um veneno mal disfarçado.

Pedro colocou um braço protetor à volta dos ombros dela. "Está tudo bem, mãe. Eu trato disto."

Ele virou-se para mim, o seu olhar ainda mais duro. "Tu ouviste-a. Ela está aterrorizada. Como pudeste ser tão cruel?"

"Cruel? Eu sou cruel?" Uma risada amarga escapou-me. "Pedro, abre os olhos! Ela tem-te manipulado desde o dia em que aqui chegou! Ela minou-me, criticou-me e virou-te contra mim, e tu deixaste!"

"Não fales assim da minha mãe!" ele rosnou.

"É a verdade! Ela finge ser fraca e indefesa, mas é a pessoa mais forte e calculista que eu conheço! E tu cais na teia dela todas as vezes!"

"Chega, Eva!"

"Não, não chega! Estou farta de andar na ponta dos pés nesta casa, farta de me sentir uma estranha no meu próprio lar! Estou farta de competir pela atenção do meu próprio marido com a mãe dele!"

As palavras saíram num jorro, carregadas de meses de frustração reprimida.

Sofia soluçou mais alto, enterrando o rosto no peito de Pedro. "Vês, Pedro? Vês como ela me odeia? Eu disse-te."

"Eva, pede desculpa à minha mãe. Agora." A ordem de Pedro foi fria, final.

Olhei para ele, para o homem que eu amava, a proteger a mulher que nos tinha destruído. E nesse momento, todo o amor que restava em mim secou e morreu.

"Não."

A minha recusa pairou no ar.

"O quê?"

"Eu não vou pedir desculpa por dizer a verdade. Se não consegues ver, então não há mais nada a dizer." Apontei para as malas. "Pega nas tuas coisas e sai."

O rosto de Pedro ficou branco de fúria. Por um segundo, pensei que ele me ia bater. O seu corpo estava tenso, os punhos cerrados.

Mas em vez disso, ele deu uma risada curta e sem humor.

"Está bem. Está bem, Eva. Tu queres assim? Então tens assim."

Ele virou-se, agarrou nas duas malas com uma força violenta.

"Vamos, mãe."

Ele começou a dirigir-se para a porta, arrastando Sofia com ele.

Na porta, ele parou e olhou para trás, por cima do ombro. O seu olhar era gelado.

"Vais arrepender-te disto. Vais ficar sozinha nesta casa vazia e vais arrepender-te."

Depois, ele abriu a porta e saiu, batendo-a com força atrás de si.

O som ecoou pela casa silenciosa.

Fiquei ali, no meio da sala, a tremer.

Sozinha.

Finalmente, estava sozinha.

            
            

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