Minha Casa, Minha Liberdade
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Capítulo 4

Os dias seguintes foram estranhamente silenciosos.

A ausência de Pedro e Sofia era um ruído por si só. A casa parecia demasiado grande, demasiado vazia.

Não houve chamadas, nem mensagens. Apenas um silêncio absoluto do lado deles.

Contratei um advogado, um homem chamado Sr. Almeida, que me garantiu que a minha posição era forte. A casa era minha, sem contestação. O processo de divórcio seria simples.

Tentei mergulhar no trabalho, preenchendo as minhas horas com reuniões e prazos, mas a minha mente continuava a vaguear.

Eu repassava as conversas, as discussões, à procura de um ponto de viragem, de um momento em que as coisas poderiam ter sido diferentes.

Mas voltava sempre à mesma conclusão: Pedro tinha feito a sua escolha.

Cerca de uma semana depois de ele ter saído, recebi um e-mail. Não era de Pedro, mas do seu advogado.

O assunto era "Divisão de Bens".

Abri-o com o coração a bater. O e-mail era curto e formal. Listava os bens que Pedro reclamava: o carro, que estava em nome de ambos, metade das nossas poupanças conjuntas e, para meu choque, uma lista de vários móveis e obras de arte da casa.

Móveis que os meus pais tinham escolhido. Obras de arte que a minha mãe amava.

O e-mail terminava com uma nota fria: "O meu cliente também solicita uma compensação pela 'angústia emocional' causada pela sua expulsão abrupta da casa conjugal e pelo tratamento dado à sua mãe idosa."

Angústia emocional. A audácia deixou-me sem fôlego.

Liguei imediatamente ao meu advogado.

"Sr. Almeida, recebi um e-mail do advogado do Pedro."

Li-lhe a lista de exigências, a minha voz a tremer de raiva.

"Isto é ridículo! Ele não pode estar a falar a sério! Compensação por angústia emocional?"

O Sr. Almeida suspirou do outro lado da linha. "Sra. Andrade, isto é uma tática. Eles estão a tentar intimidá-la, a pressioná-la a ceder noutras áreas."

"Os móveis e a arte foram presentes dos meus pais. Estão na minha família há anos!"

"Temos os recibos? Provas de propriedade?"

"Acho que sim. Tenho de procurar nos papéis antigos dos meus pais."

"Faça isso. Quanto às poupanças, ele tem direito a metade da conta conjunta. O carro também terá de ser negociado. Mas a reivindicação de angústia emocional é absurda. Não se preocupe com isso."

Desliguei o telefone, sentindo-me esgotada.

Isto não ia ser um divórcio limpo. Ia ser uma guerra. Pedro, ou mais provavelmente Sofia a sussurrar-lhe ao ouvido, ia lutar por cada cêntimo, por cada objeto, não por necessidade, mas por despeito.

Eles queriam punir-me.

Passei o resto da noite a vasculhar caixas velhas no sótão, à procura de recibos e documentos. O pó fazia-me espirrar, e o ar estava abafado.

Cada papel que encontrava, cada fotografia antiga dos meus pais, era uma facada. Eles tinham construído esta casa com amor. E agora, estava a ser desmantelada por ódio.

Finalmente, encontrei uma pasta grossa com recibos de galerias de arte e lojas de móveis de luxo, todos em nome do meu pai.

Senti uma onda de alívio. Prova.

Mas o alívio foi rapidamente substituído por uma tristeza profunda.

Era a isto que o meu casamento se tinha reduzido. Uma batalha por objetos materiais. Uma luta para provar quem era o dono do quê.

O amor, a confiança, a parceria - tudo isso tinha desaparecido, substituído por advogados e reivindicações legais.

Sentei-me no chão do sótão poeirento, rodeada pelos fantasmas do passado, e pela primeira vez desde que Pedro saiu, chorei.

Chorei pela perda do meu casamento, pela perda do homem que pensei conhecer e pela fealdade do que estava para vir.

                         

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