Desci as escadas com o coração martelando no peito, cada passo um baque surdo nos meus ouvidos. A impostora me seguia de perto, o farfalhar do vestido que ela carregava soando como uma ameaça. Eu esperava encontrar meu pai na sala de estar, sentir o alívio de sua presença familiar e segura.
Ele estava lá, de costas para mim, olhando pela janela da sala.
"Pai?" chamei, minha voz quase falhando.
Ele se virou com um sorriso largo. "Minha filha! Você está linda!"
Mas no momento em que seus olhos encontraram os meus, o gelo que se formara na minha espinha se espalhou por todo o meu corpo. A esperança se estilhaçou em um milhão de pedaços.
Era o mesmo rosto gentil do meu pai, os mesmos olhos castanhos, o mesmo cabelo grisalho nas têmporas. Mas algo estava errado. Terrivelmente errado.
Meu pai tinha a orelha esquerda furada. Ele fez isso na faculdade, uma história engraçada que ele adorava contar. Ele nunca furou a direita.
Este homem, parado na minha sala, tinha um pequeno brinco de argola na orelha direita.
O ar sumiu dos meus pulmões. Ele também. Ele também era um impostor.
Eles estavam juntos nisso. Os dois.
"O que foi, querida? Você parece pálida" , disse o homem que usava o rosto do meu pai. Sua voz era uma imitação perfeita, mas agora eu podia ouvir a falsidade por baixo dela.
"Nada. Só... um pouco nervosa" , consegui dizer.
Estou sozinha, pensei. Completamente sozinha.
A mulher que se passava por minha mãe desceu as escadas e parou ao lado dele, colocando a mão em seu braço. "Ela estava se agarrando a uma lembrança daquele rapaz. Mas já resolvemos."
O impostor que usava o rosto do meu pai me olhou com uma falsa simpatia. "Sofia, você precisa seguir em frente. Marcos é um bom homem. É hora de ser feliz."
Suas palavras eram gentis, mas seus olhos eram vazios. Olhando mais de perto, notei outras coisas. A pele deles parecia um pouco lisa demais, quase como cera. Havia uma rigidez em seus movimentos, uma falta de naturalidade que eu nunca havia percejado antes.
A mensagem de Daniel ecoou na minha mente: "Fuja. Agora."
Ele não estava me pedindo para abandonar o casamento. Ele estava me avisando. Ele sabia sobre eles.
"Vamos, querida. Está na hora de ir para a igreja" , disse a mulher, me guiando suavemente em direção à porta. Seu toque era frio.
Eles me levaram para o carro. Eu entrei no banco de trás, sentindo-me como uma prisioneira. O homem dirigia e a mulher sentava-se no banco do passageiro. Ela continuava me olhando pelo espelho retrovisor, seu sorriso fixo e perturbador.
Eu estava sendo vigiada.
Minha mão deslizou discretamente para a maçaneta da porta. Tentei abri-la, apenas um pouco, para ver se estava travada. Estava. A trava de segurança para crianças estava ativada.
Meu coração afundou. Não havia escapatória fácil. Eles me levaram à força, com sorrisos e palavras gentis, para um destino que eu não conhecia, fingindo que era o meu próprio casamento. O terror era um nó apertado no meu estômago. Eu precisava de um plano. Precisava de uma chance.